sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

À Volta da Lua (1868-69, 1869)


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Para quem se interessar na obra, sugere-se a leitura do artigo A ciência nas obras lunares da revista Mundo Verne nº8.

3 comentários:

Luis disse...

Lida a obra, consegue facilmente perceber-se o motivo que poderá estar na origem da longa espera de 4 anos para o seguimento da obra “Da Terra à Lua”. Poderá ele ser, como Verne sempre nos habituou, a dedicação e empreendedorismo exaustivos empregados da sua parte em pesquisas de factos que, por trás de toda a sua fantasia, fundamentem o rigor científico com que prima por apresentar todas as suas obras levando-nos a acreditar, quase dogmaticamente, em tudo o que nos é apresentado.

Maioritariamente, a aventura é desenrolada no interior de uma cápsula disparada da Terra que percorre o espaço da Terra à Lua e em torno dela, de uma forma que nos transporta para os textos platónicos na forma de um diálogo entre três personagens, entre os quais existe um menos iluminado relativamente às ciências, Miguel Ardan, que levanta questões que prontamente são refutadas e logicamente explicadas pelo mais iluminado, Barbicane, e que é auxiliado pelo terceiro, Nicholl.

A par da aventura, não só são homogeneamente introduzidos uma grande quantidade de dados e factos, que representam o que na altura da escrita da aventura seriam as teorias aceites acerca de Selene, designação antiga dada à Lua, bem como a história da evolução do conhecimento acerca da mesma através dos inúmeros astrónomos que munidos das suas primitivas lunetas e telescópios puderam descortinar, anotar e representar, como são especuladas fantásticas teorias tal como a existência de selenitas, muitas delas fundamentadas na criatividade imaginativa de Julio Verne, mas algumas que também podem ser atribuídas aos homens de ciência do século XIX sem depreciação destes.

Resulta assim uma aventura passada fora da Terra, ao contrário da maioria das obras deste escritor, cheia de suspense, que naturalmente nos estimula a imaginação, e que nos dá a conhecer o grande visionário que foi JV, quando, num final apoteótico, levanta questões que podem ter estado na origem das viagens já realizadas à Lua até aos dias de hoje.

É caso para dizer: “O que um Homem pode imaginar, outros podem tornar real!”

Anónimo disse...

Viva Luis

Este fantástico comentário fez-me lembrar uma curiosidade que aproveito para colocar aqui.

Em 1846, Frederic Petit, director do observatório de Toulouse, anunciou que uma segunda lua da Terra tinha sido descoberta. Ela tinha sido vista por dois observadores numa noite de 1846. Petit descobriu que a órbita era elíptica, apogeu de 3570 km acima da superfície da Terra e perigeu de apenas 11,4 km (!) acima da superfície do planeta. Le Verrier, que estava entre os ouvintes de Petit, respondeu por entre dentes, em tom de resmungo, que se precisaria levar em consideração a resistência do ar -- coisa que ninguém estava em condições de fazer naquela época. Petit ficou obcecado com a ideia de uma pequena lua ao redor da Terra, responsável por algumas até então inexplicáveis peculiaridades no movimento do nosso satélite natural. Os astrónomos, em geral, não deram atenção ao facto, e a ideia teria sido esquecida não fosse o facto de um jovem escritor francês, Júlio Verne, ter lido um breve resumo do trabalho de Petit. No romance, um pequeno objecto passa próximo à nave, forçando-a a girar ao redor da Lua, ao invés de chocar-se com o satélite:

"É um simples ", disse Barbicane -- "mas um meteorito enorme, capturado como satélite pela atracção da Terra."

"Isso é possível?" -- perguntou Michel Ardan -- "a Terra ter duas luas?"

"Sim, meu amigo, ela tem duas luas, embora normalmente se acredite que ela tenha apenas uma. Mas essa segunda lua é tão pequena e sua velocidade é tão grande, que os habitantes da Terra não podem vê-la. Foi observando certos distúrbios em nossa lua que um astrónomo francês, Monsieur Petit, pode determinar a existência dessa segunda lua e calcular sua órbita. Segundo ele, uma revolução completa ao redor da Terra leva três horas e vinte minutos..."

"Todos os astrónomos admitem a existência dessa lua?" -- perguntou Nicholl.

"Não" -- respondeu Barbicane. "Mas se eles, como nós, a tivessem visto, não teriam dúvidas sobre ela... Mas isso possibilita-nos determinar nossa posição no espaço... a sua distância é conhecida, e estávamos, portanto, 7480 km acima da superfície do globo quando a encontramos."

Apesar de alguns erros de contas, Júlio Verne tornou a segunda lua de Petit mundialmente conhecida. Astrónomos amadores logo viram aí a chance de se tornarem famosos: qualquer um que descobrisse essa segunda lua teria o seu nome inscrito nos anais da ciência. O problema de uma segunda lua da Terra jamais mereceu a atenção dos grandes observatórios, e se tal atenção houve por parte de algum deles, nada foi divulgada. Alguns amadores alemães saíram a procura do que eles denominavam Kleinchen("pedacinho").
Naturalmente, eles nunca encontraram o seu Kleinchen..

Luis disse...

É verdade Frederico. Obrigado pelo esclarecimento. Eu nunca antes tinha ouvido falar desse possível segundo satélite e nem fiquei muito convencido quando Verne falou dele. Mais uma pequena maravilha oferecida por JV que é um dos muitos pequenos pormenores de que a história e evolução da ciência está cheia e que a muitos de nós nos passa completamente despercebida. Consideraria assim que esta obra não só é uma aventura mas paralelamente é um ensaio de divulgação e especulação científica.

A verdade é que desta vez não exercitei muito o espírito para tentar deduzir os dados, pois torna-se complicado quando não é totalmente claro se os possíveis erros são devidos aos dados da época ou se das diferentes unidades utilizadas como é o caso da légua que umas vezes é de 4 e outras de 5 km.