quinta-feira, 29 de junho de 2023

1905 - O Magazine Bertrand, o Escritor Fantasma e um texto português que Jules Verne nunca escreveu

Na primeira década de 1900, o nome de Jules Verne continuava a ser um notável fenómeno de popularidade, consolidada por uma longa carreira literária já com mais de quarenta anos. O papel de criador do romance de antecipação científica que a fortuna lhe consagrou tornava-o um dos nomes incontornáveis num início de século perdidamente apaixonado pelo progresso tecnológico, em que, pensava-se então, o futuro seria sempre radioso e brilhante graças à confiança ilimitada nos auspícios prodigiosos da ciência. 1914 colocou um fim definitivo a essa confiança e foi o fim de uma época a que, retrospectivamente, se deu o nome de Belle Époque. 

No Portugal de 1900, Verne era, também, um autor extremamente popular, malgrado alguma intermitência na publicação das suas obras por estes anos (algumas delas continuam ainda hoje inéditas entre nós e outras surgiram muitas décadas mais tarde). Contudo, se não se publicava tudo o que Verne escrevia, pelo menos publicava-se o que ele... nunca escreveu. 

Em Portugal, pelo menos uma vez, Verne (seguramente sem o saber) teve um escritor fantasma que deu à estampa um texto publicado em seu nome e que inaugurou o primeiro número do Magazine Bertrand, propriedade da casa editorial responsável pela divulgação da sua obra a partir de 1913, a Livraria Bertrand. 


1905, capa do número 1 do Magazine Bertrand


1905, página de rosto do número 1 do Magazine Bertrand

Corria o ano de 1905 e a Livraria Bertrand associava ao seu Almanaque (publicado desde 1900) o Magazine na lista das suas publicações periódicas. Ao contrário do primeiro, que só terminou em 1971 e foi retomado já este século, o Magazine Bertrand não conheceu a mesma regularidade temporal. Teve uma edição quinzenal entre 1905 e 1910 (não sendo publicado em 1908 e 1909) e voltou mensalmente às bancas entre 1926 e 1933. Em Dezembro deste ano, no último número vindo a lume, a Bertrand anunciava o fim temporário (mas que seria definitivo) do Magazine porque o tipo de papel utilizado, o papel couché, não era fabricado em Portugal e a sua importação era demasiado cara, tornando inviável a continuação deste projecto editorial.


Magazine Bertrand, Dezembro de 1933


O texto que Verne nunca escreveu intitula-se "O que será o mundo no século em que estamos" e surgiu, como disse acima, no primeiro número do Magazine Bertrand, em 1905. Nas palavras de quem o escreveu (o verdadeiro autor permanece no mais secreto mistério, mas poderá tratar-se de José Bastos ou de Fernandes Costa; o primeiro era um dos proprietários da Bertrand na época e o segundo foi o tradutor de Mathias Sandorf e editor-chefe do Almanaque Bertrand), trata-se da tradução de um artigo que Verne teria escrito, em 1904, para o jornal americano New York World

O jornal efectivamente existiu e as suas edições estão disponíveis online, porém nunca consegui encontrar a (suposta) versão original do texto. Segundo dois especialistas na obra Jules Verne que consultei, Verne nunca escreveu nenhum artigo com o título acima mencionado, pelo que o texto é, de facto, apócrifo. De qualquer forma, vale a pena lê-lo como se se tratasse de um verdadeiro texto de Verne porque, sem o conhecimento que possuímos hoje sobre o escritor, o artigo poderia passar perfeitamente como tendo saído da sua pena. Muitos parabéns ao habilidoso escritor fantasma português do início do século vinte pelo verdadeiro golpe de marketing que talvez tenha ajudado a vender mais o primeiro número do Magazine Bertrand


 1905, Magazine Bertrand, número 1


 1905, Magazine Bertrand, número 1


 1905, Magazine Bertrand, número 1

domingo, 18 de junho de 2023

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 37 - O Economista, 9 de Fevereiro de 1885

 

O Economista, 9 de Fevereiro de 1885

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 36 - Jornal da Noite, 26 de Janeiro de 1883

 

Jornal da Noite, 26 de Janeiro de 1883

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 35 - Jornal da Noite, 19 de Janeiro de 1880

Jornal da Noite, 19 de Janeiro de 1880
 

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 34 - Jornal da Noite, 13 de Agosto de 1878

 

Jornal da Noite, 13 de Agosto de 1878

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 33 - Jornal da Noite, 17 de Dezembro de 1877

 

Jornal da Noite, 17 de Dezembro de 1877

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 32 - Jornal da Noite, 25 de Julho de 1877

 

Jornal da Noite, 25 de Julho de 1877

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 31 - Jornal da Noite, 17 de Janeiro de 1877

 

Jornal da Noite, 17 de Janeiro de 1877

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 30 - Jornal da Noite, 11 de Agosto de 1876

 

Jornal da Noite, 11 de Agosto de 1876

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 29 - Jornal da Noite, 30 de Março de 1876

 

Jornal da Noite, 30 de Março de 1876

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 28 - Jornal da Noite, 23 de Julho de 1875

 

Jornal da Noite, 23 de Julho de 1875

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 27 - Jornal da Noite, 16 de Julho de 1875

Jornal da Noite, 16 de Julho de 1875

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 26 - Jornal da Noite, 22 de Fevereiro de 1875

 

Jornal da Noite, 22 de Fevereiro de 1875

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 25 - Jornal da Noite, 23 de Janeiro de 1875

 

Jornal da Noite, 23 de Janeiro de 1874

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 24 - Jornal da Noite, 21 de Dezembro de 1874

 

Jornal da Noite, 21 de Dezembro de 1874

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 23 - Diário Ilustrado, 10 de Julho de 1874

 

Diário Ilustrado, 10 de Julho de 1874