segunda-feira, 31 de maio de 2010

2ª Leitura verniana em conjunto - O início

Devido à experiência enriquecedora da anterior iniciativa, alguns membros do fórum, onde me incluo, decidiram avançar com a escolha da obra e com a marcação do início da leitura da segunda Leitura em conjunto de uma obra verniana.

A leitura da obra escolhida, O País das Peles, terá início hoje, dia 31, com uma duração de aproximadamente um mês, como tem sido hábito.

Gostaríamos de ver, nestas horas que antecedem o início da leitura, mais inscrições. Apareçam, falem aos vossos amigos, transmitem a mensagem no vosso blog. Participem. Não se irão arrepender.

Caso estejam interessados, poderão se inscrever e deixar a confirmação no tópico correspondente.

O único requisito é que se registem (para quem ainda não o fez) no fórum para poderem colocar os vossos comentários, e já agora que tragam vontade de aproveitar os benefícios de uma Leitura Conjunta.

terça-feira, 25 de maio de 2010

'A Segunda Lua da Terra' por Paul Schlyter

Depois de o amigo Luís ter referido, num dos seus comentários, a 2ª lua que J. Verne cita na sua obra Da Terra à Lua, decidi colocar um excerto de um artigo de Paul Schlyter sobre a existência desta suposta 2ª lua à volta da Terra e referência desta na obra verniana.

Em 1846, Frederic Petit, director do observatório de Toulouse, anunciou que uma segunda lua da Terra tinha sido descoberta. Ela tinha sido vista por dois observadores, Lebon e Dassier, em Toulouse, e por um terceiro, Lariviere, em Artenac, durante as primeiras horas da noite de 21 de Março de 1846. Petit descobriu que a órbita era elíptica, com um período de 2 horas, 44 minutos e 59 segundos, apogeu de 3570 km acima da superfície da Terra e perigeu de apenas 11,4 km (!) acima da superfície do planeta. Le Verrier, que estava entre os ouvintes de Petit, respondeu por entre dentes, em tom de resmungo, que se precisaria levar em consideração a resistência do ar -- coisa que ninguém estava em condições de fazer naquela época. Petit ficou obcecado com a ideia de uma pequena lua ao redor da Terra, responsável por algumas até então inexplicadas peculiaridades no movimento de nosso satélite natural.

Os astrónomos, em geral, não deram atenção ao fato, e a ideia teria sido esquecida não fosse o fato de um jovem escritor francês, Júlio Verne, ter lido um breve resumo do trabalho de Petit. No romance de Verne, "Da Terra à Lua", um pequeno objeto passa próximo à nave espacial do viajante, forçando-a a girar ao redor da Lua, ao invés de chocar-se com o satélite:

"É um simples ", disse Barbicane -- "mas um meteorito enorme, capturado como satélite pela atração da Terra."


"Isso é possível?" -- perguntou Michel Ardan -- "a Terra ter duas luas?"


"Sim, meu amigo, ela tem duas luas, embora normalmente se acredite que ela tenha apenas uma. Mas essa segunda lua é tão pequena e sua velocidade é tão grande, que os habitantes da Terra não podem vê-la. Foi observando certos distúrbios em nossa lua que um astrónomo francês, Monsieur Petit, pode determinar a existência dessa segunda lua e calcular sua órbita. Segundo ele, uma revolução completa ao redor da Terra leva três horas e vinte minutos..."


"Todos os astrónomos admitem a existência dessa lua?" -- perguntou Nicholl.


"Não" -- respondeu Barbicane. "Mas se eles, como nós, a tivessem visto, não teriam dúvidas sobre ela... Mas isso nos possibilita determinar nossa posição no espaço... sua distância é conhecida, e estávamos, portanto, 7480 km acima da superfície do globo quando a encontramos."

Júlio Verne foi lido por milhões de pessoas, mas foi somente em 1942 que se observaram as discrepâncias no texto do escritor:
  1. Um satélite a 7480 km da superfície da Terra teria um período de 4 horas e 48 minutos, não de 3 horas e 20 minutos.
  2. Uma vez que o objeto foi visto da janela de onde o viajante não podia ter uma visão da Lua, enquanto ambos se aproximavam, ele devia estar em movimento retrógrado -- fato significativo que Verne não menciona em seu livro.
  3.  De qualquer modo, o satélite estaria em eclipse e, portanto, não seria visível. A cápsula não deixa a sombra da Terra senão muito mais tarde.
O Dr. R. S. Richardson, do Observatório de Monte Wilson, tentou, em 1952, fazer os dados se encaixarem. Admitiu ele uma órbita excêntrica para essa lua: perigeu a 5010 km e apogeu a 7480 km acima da superfície da Terra, excentricidade de 0,1784.

Mesmo assim, Júlio Verne tornou a segunda lua de Petit mundialmente conhecida. Astrônomos amadores logo viram aí a chance de se tornarem famosos: qualquer um que descobrisse essa segunda lua teria seu nome inscrito nos anais da ciência. O problema de uma segunda lua da Terra jamais mereceu a atenção dos grandes observatórios, e se tal atenção houve por parte de algum deles, nada foi divulgado. Alguns amadores alemães saíram a procura do que eles denominavam Kleinchen ("pedacinho"). Naturalmente, eles nunca encontraram o seu Kleinchen.

Para aqueles que pretendem saber um pouco mais desta 2ª lua, basta acederem ao artigo completo clicando aqui.

J. Verne e a sua Ilha Misteriosa em 'Lost'

Desde o início de LOST que muito se tem falado sobre as semelhanças entre a série e a obra A Ilha Misteriosa de Júlio Verne. Agora que a série terminou, falemos um pouco sobre esta relação: A Ilha Misteriosa/Lost.
 
Começando pela análise do autor, J. Verne era um escritor que começava um livro após muita pesquisa, muito estudo, etc... e sabia como seria o final da trama após um desenrolar lógico. Muitos dizem que os argumentistas de Lost não tiveram a mesma ideologia de Verne adaptando as suas ideias ao longo da série. Será?
Bem, apesar deste ‘alinhamento', ou não, a verdade é que uma das obras em que os criadores se basearam foi mesmo A Ilha Misteriosa.


De facto, há várias influências e referências, à obra de Júlio Verne. Qualquer um que tenha lido o livro percebe que Lost é uma versão vitaminada da mesma história: um grupo de náufragos do ar (no romance, de um balão) cai numa ilha não-mapeada do Pacífico e tem de sobreviver graças ao seu engenho, ao mesmo tempo que encontram evidências de que não estão sozinhos, mas compartilham a ilha com uma entidade desconhecida, que ora se mostra benéfica, ora maléfica, e que, em todo caso, tem acesso a uma tecnologia superior. 

Falaremos agora mais detalhadamente de cada umas influências/similaridades da obra verniana com a série americana:

'Lost' vs. 'A Ilha Misteriosa'

-No episódio 'Whatever the Case May Be' (1x12) Shannon refere-se à Ilha como "Ilha Louca Misteriosa".

-Joop, o orangotango de 105 anos da Fundação Hanso (capturado por exploradores Britânicos) foi visto pela primeira vez no começo de Lost Experience. Isso é obviamente uma referência a Jupe (Júpiter), o macaco do romance. Numa tradução de Jordan Stump (2001, 2004, editora Random House), o nome do macaco soa foneticamente como Joop, para ser mais facilmente pronunciado pelos americanos. Dada a fama de Jules Verne e a fama do livro por todo o mundo, parece que o (ficcional) macaco capturado pelos exploradores só foi chamado assim após o romance de Verne.

-O elenco de Verne também têm um cão, chamado Top, que está com eles na ilha. Top é um cão de caça da geração "Anglo-Norman" com grande inteligência. Ele é um amigo confiável e capaz de entender e cumprir todas as ordens do seu dono o mestre Cyrus. Vincent é também um cachorro e parece saber algo mais sobre a ilha.

-A data da tempestade que consequentemente causou a queda do balão é 23 de Março de 1865 (perceba o número 23).

-O acidente ocorre por volta das quatro da tarde (16:00).

-Os prisioneiros escaparam usando um balão, que caiu às margens de uma ilha desconhecida, onde eventos misteriosos ocorrem. Como os aviões ainda não haviam sido inventados, isso parelha com o Vôo 815 Oceanic perdido.

-A queda do balão também lembra a queda do balão de Henry Gale, embora o dele tenha caído no interior da ilha e não às margens.

-As três partes: a Parte I narra a sobrevivência imediata das pessoas e também dá dicas sobre os acontecimentos misteriosos que virão (similar a primeira temporada); a Parte II mostra o pessoal explorando a ilha e descobrindo mais mistérios e termina com a descoberta de um navio (similar a segunda temporada); a Parte III mostra o aumento do perigo e a revelação final da ilha misteriosa. A terceira temporada de Lost também revela um crescente perigo quando os Outros provam um aumento das rivalidades com os sobreviventes do Vôo 815, embora não haja uma revelação final sobre a ilha ao final da terceira temporada.

-A presença de hostis na ilha: seis piratas isolados escondidos na floresta da ilha ameaçam os fugitivos. Isso é similar a presença dos Outros hostis.

-A proteção da ilha é perdida: estranhos eventos permitem que os fugitivos sobrevivam e evitem desastres (como um um sinal de fogo que os guia a um barco à velas e eles descobrem suprimentos de sobrevivência). Essa proteção é perdida quando seis sórdidos piratas estão perdidos na ilha. A fé de Locke na benevolência da ilha é perturbada quando o monstro de fumaça tenta atacá-lo.

-Cyrus Smith é um engenheiro e líder dos fugitivos. Ele tem uma grande base de conhecimento e leva todas as coisas para um lado metódico e científico. Alguns traços desse personagem estão em Jack. Aqui está uma frase do livro que diz respeito a Cyrus: "Entretanto, o obstinado senso de razão dele foi exasperado para deparar a si mesmo com um completamente inexplicável evento e ele enfureceu-se com o pensamento que o rondava, ou talvez que estava acima dele, escondido numa influência que ele não poderia definir." (Parte II, Cap. VI)

-Harbert Brown é um menino órfão de 15 anos, filho de um capitão do mar e que tem talento para a natureza. Ele é capaz de identificar um vasto tipo de flora e fauna da ilha, o que é um inestimável talento para os fugitivos. Ter um miúdo entre os fugitivos é parecido com o papel de Walt junto aos sobreviventes. O talento da natureza, numa menor proporção, para os sobreviventes é Sun.

-Gideon Spilett é um jornalista do New York Herald. Enquanto lhe falta uma habilidade especializada, ele compensa com a dedicação de ajudar da melhor maneira que puder. Charlie tem alguma dessas características. Gideon é capaz de salvar Harbert de um quase fatal ferimento causado por tiro. Então, ele tem alguma experiência médica como Jack.

-Pencroff é um fidedigno, mas também um determinado e vivaz marinheiro.

-Neb é um empregado Afro-Americano de Cyrus Smith. Ele é devoto de Cyrus e determinado a fazer qualquer coisa para cuidar dele. A especialidade dele é cozinhar, embora ele também seja um bom caçador e ajude com todos os esforços aos fugitivos. A devoção dele é reminiscente a relação de Rose-Bernard.

-Ayrton é um marinheiro que foi exilado da Ilha Tabor quando o plano dele de tomar o navio para pirataria foi descoberto. Ele vive na ilha por 12 anos até quando descobriu os fugitivos. O isolamento levou-o à loucura. Demorou muito até que os fugitivos conseguissem trazê-lo de volta a normalidade e convencê-lo de que a culpa dele havia sido perdoada. Apesar dos esforços, ele ainda vivia separado dos fugitivos. Esse personagem é muito parecido com a mulher francesa, Rousseau.

-Top é um cachorro com grande inteligência. Ele é uma amigo confiável e capaz de entender e cumprir todas as ordens do seu dono o mestre Cyrus. Vincent é também um cachorro e parece saber algo mais sobre a ilha.

-Em A Ilha Misteriosa, o colonizador usa dinamites para explodir uma caverna submersa que mais tarde torna-se um lar melhor que o anterior, na praia. Os sobreviventes usaram dinamites para explodir a escotilha que também tornou-se um lar melhor que a praia.

-Na obra, o engenheiro e o jornalista mantêm segredo sobre a existência de outras pessoas na ilha. Muito parecido com o que aconteceu em Lost, onde alguns personagens guardaram segredo sobre os Outros.

-O Capitão Nemo usava uma ilha deserta no pacífico com local onde ele poderia conduzir experiências e construir um barco utilizando electricidade, que na época do romance a electricidade era uma coisa quase mágica. Muito parecido com a Iniciativa DHARMA e os propósitos dela com a ilha.

-Na A Ilha Misteriosa, os colonizadores vêem-se como mestres do próprio destino. Já o capitão Nemo estava-os ajudando sem o conhecimento deles. Muito parecido com a dualidade Destino vs. Livre Arbítrio na Ilha.

-No episódio 'Fallow the leader' (5x15), James "Sawyer" Ford responde ao capitão do submarino quando este lhe pede para não causar problema: "Nem pensamos nisso, Nemo."

-No último episódio da série, e como acontece no final de A Ilha Misteriosa, a ilha começa a mostrar sinais de querer explodir.


Há outras obras de J. Verne que são referência em Lost como:

-The Survivors of the Chancellor é o livro que Regina está a ler esse livro de cabeça para baixo quando Minkowski quer falar com Sayid e Desmond no cargueiro (7º episódio da 4ª Temporada). Esta obra trata sobre sobreviventes de um navio afundado que vivenciam uma série de eventos terríveis.

-No 'Flashes Before Your Eyes', existe um whiskey com o nome de MacCutcheon em Lost. Almirante MacCutcheon é o nome do personagem de remake para televisão de uma história clássica dos cinemas, Vinte Mil Léguas Submarinas (de Júlio Verne). Neste remake, Adewale Akinnuoye-Agbaje faz o papel do Cabo Attucks. 

Algumas destas informações foram retiradas do site de fãs dedicado à série Lost: Lostpedia.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

“Eu preferi o livro” por Ivan Cardoso

Essa é uma frase muito comum de se ouvir nas portas de saída de salas de cinema após a exibição de algum filme baseado em um livro. Quase sempre é seguida de críticas a diálogos e/ou cenas retirados, colocados ou alterados, o que, muitas vezes implica numa alteração (sutil ou drástica, depende do roteirista) da trama original, o que causa desapontamentos da parte dos que leram o livro em questão e gera a frase citada (os que não o leram tem poucos comentários dessa ordem a fazer).

Essas alterações, porém, decorrem do fato de que esses filmes são adaptações das obras originais, não as obras transpostas diretamente para a linguagem cinematográfica. Esta difere em muitos pontos da linguagem literária e, por isso, na “tradução”, mudanças são necessárias para que a mensagem fique inteligível na nova língua. O mesmo aconteceria se um livro fosse transformado em uma tela pintada: nem tudo da história poderia aparecer lá, pois, se aparecesse, a tela ficaria demasiadamente grande, cansativa e, possivelmente, desconexa.

Apesar de existirem adaptações que tentam ser fiéis o máximo possível sem perder as nuances originais nem o interesse do público, quando o assunto são obras de Júlio Verne, todos “descambam” e parecem esquecer o que é a fidelidade à obra. O que acontece?

As viagens escritas por Júlio Verne no século XIX já são por si só espetaculares (tanto que muitas são conhecidas como Viagens Extraordinárias), com invenções fantásticas, porém completamente plausíveis (em sua maioria), e teorizações tomadas como verdadeiras (a maioria foi assim provada anos depois), o que já garante um grande entretenimento para o público. Mas, sempre que se tratam delas, o objetivo parece ser o de criar um espetáculo ainda maior e arrebatador. Isso, porém, acaba, na maioria das vezes em alterar de tal forma a história, que apenas o esqueleto principal parece permanecer (muitas vezes apenas fragmentos dele). Cito dois exemplos:

O primeiro, as adaptações de A Volta ao Mundo em 80 dias, onde Philleas Fogg e seu ajudante, Passepartout, numa aposta feita pelo primeiro, correm o mundo de forma linear para voltar a Londres em oitenta dias. A história em si já é magnífica, dado que na época em que se passa, 1872, o mundo ainda parecia grande para tal empreitada, e os personagens utilizam-se de grande parte dos meios de locomoção disponíveis naquele tempo. Na filmagem clássica de 1956, de Michael Anderson, porém, o objetivo foi o de colocar todos os meios de locomoção possíveis e imagináveis para criar um espetáculo ainda maior nas telas. Assim, assistindo ao filme, podemos ver que, agora, Philleas Fogg e Passepartout, além dos trens, barcos a vela e a vapor, elefante e trenó, agora também utilizam-se de um balão, um “barco sobre trilhos” e uma avestruz durante essa empreitada. O resultado dessa adaptação foi a alteração (já prevista) de certas partes da trama (como uma tourada na Espanha, ausente no original, e um drinque chinês anestesiante, em oposição ao ópio do livro) e alterações consideradas “graves”, como as de personagens, sendo a mais notável a sofrida por Passepartout, que, de francês, passou a ser mexicano (interpretado por Cantinflas). No geral, porém, a adaptação não foi sofrível, apenas acrescentou objetos demais.

Isso, porém, não é o mesmo caso da adaptação da mesma obra feita em 2004, e estrelada por Jackie Chan. Nela, Phileas Fogg é um inventor e sonhador, que acaba por contratar Jackie Chan, um chinês que roubou uma estatueta de Buda do Banco Inglês, como seu ajudante, acreditando que seu nome é Passepartout (Passport dito de forma apressada e rápida). Como já era de se esperar, o filme se tornou um filme de ação com a maioria dos personagens alterados (creio que todos) e alguns adicionados, além dos acontecimentos da trama (ressalto a passagem pela vila chinesa natal de Passpartout, que é membro de um grupo heróico de lutadores de kung-fu). Apenas o fato de ser uma viagem ao redor do mundo em 80 dias no século XIX sobreviveu.



O mapa da Viagem em 80 dias original, de Londres a Londres, indo sempre para o leste.

Já o segundo exemplo, são as diversas adaptações das obras A Ilha Misteriosa e Viagem ao Centro da Terra, que acabaram colocando tantas coisas novas e fizeram tanto sucesso, que são as versões dessas histórias conhecidas pelo grande público. Em Viagem, o mundo encontrado nas profundezas da Terra foi descrito nos filmes como um local onde seres pré-históricos ainda sobrevivem e formações rochosas e vegetais estranhas à superfície existem. Essas formações existem no livro, mas quanto aos seres pré-históricos, são descritos somente no sonho de uma das personagens e como uma hipótese para silhuetas observadas em uma mata. Somente fósseis foram encontrados acertadamente. Como há menção disso na obra, essas alterações são “perdoáveis” e fazem jus à mente criativa de Verne.

O caso, porém, são as adaptações d’A Ilha. Estas, sim, foram extrapoladas ao extremo. A trama original conta a histórias de norte-americanos que, durante a Guerra de Secessão, escapam dos sulistas com um balão, mas, devido a um furacão no Pacífico, acabam se perdendo e caindo numa ilha desconhecida. Essa ilha abriga animais já conhecidos e de tamanho normal, e os “náufragos do ar” utilizam-se de técnicas de engenharia e das ciências naturais para lá sobreviverem. Essa é a história (sem contar os outros personagens que acabam aparecendo e o final), porém, a versão mais conhecida pelo público em geral é a divulgada pelas adaptações cinematográficas ou televisivas, em que a ilha é habitada por seres de tamanhos assustadores ou monstros nunca antes vistos e que os “náufragos”, na maioria das vezes, não são os mesmos do livro.

Ou seja, concluindo, podemos dizer que, quando se trata de adaptar as Viagens Extraordinárias de Júlio Verne, a mente de diretores cinematográficos aflora e cria não uma adaptação, mas sim uma nova aventura. Ou seja, deixam de ser adaptações propriamente ditas e se tornam filmes baseados (se não apenas inspirados) nessas obras, o que já conta como uma homenagem a esse grande escritor. Porém, eu fortemente recomendo os livros antes dos filmes.

Texto escrito por Ivan Cardoso, do blog Prolixidade, e cedido gentilmente para o Blog JVernePt.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

'Around the World... ' - França (Paris)

O livro que deu recentemente a volta ao mundo graças aos amigos vernianos dispersos em todos os cantos do planeta, continua a sua viagem visitando ilustres cidades e locais por onde não tinha passado na sua volta ao Mundo em pouco mais de 80 dias.

Finalmente foi possível visitar a capital do país do nosso escritor, a cidade-luz, Paris.


A Torre Eiffel, a maior atracção turística de Paris, é uma torre treliça de ferro do século XIX com 324 metros localizada no Champ de Mars, que se tornou um ícone mundial da França e uma das estruturas mais reconhecidas no mundo. Nomeada após o seu projetista, o engenheiro Gustave Eiffel, a torre foi construída como o arco de entrada da Exposição Universal de 1889.
Foi a estrutura mais alta do mundo desde a sua conclusão até 1930, quando perdeu o posto para o Chrysler Building, em Nova York, Estados Unidos.
Infelizmente, J. Verne, devido à sua idade avançada na altura, não viu a Torre Eiffel concluída.

No segundo piso, a 125 metros de altitude está localizado o Restaurant Jules Verne, considerado o restaurante mais romântico de Paris graças à espectacular vista para o centro da cidade:


Falemos agora um pouco da vida juvenil do escritor antes das seguintes fotos.
No início dos anos de 1850, Verne instalou-se em Paris para terminar os seus estudos de Direito apesar de saber que gostaria de ser escritor e não jurista. Esperando que as suas poesias lhe dessem glória e fortuna, Júlio aproveitou o máximo da vida parisiense, na medida que a modesta pensão paterna lhe permitia. Para fazer face às dificuldades de um jovem que objectivava a carreira literária – frequentar os salões e adquirir uma colecção de livros – Júlio começou a publicar os seus primeiros textos no periódico Musée des familles, dirigido por Pierre-Chevalier.

Júlio Verne, considerado um autor dramático aos 17 anos, escreveu dramas românticos inspirados em Victor Hugo, mas foi com vaudeville e operetas que ele obteve os primeiros sucessos no teatro. Em 1850, graças a Alexandre Dumas, a sua primeira peça, Les Pailles Rompues (Contratos Rompidos), foi apresentada em Paris no Theatre Lyrique, no Châtelet, do qual se tornou mais tarde secretário:


É o teatro sua primeira vocação. Assim como os seus romances, Júlio Verne deve ao teatro a sua glória e fortuna que o imortalizou durante a sua vida e o faria muito conhecido, mais tarde, pela mão dos cineastas após a sua morte.

Mais tarde, começou a escrever o romance Voyage en l’air.
Entusiasmado por esta obra, o editor Pierre-Jules Hetzel - mais tarde, amigo e conselheiro – aceitou publicá-lo com a condição que o título fosse substituído por Cinq semaines en ballon (Cinco semanas em balão) .
O contrato desse livro foi assinado em 23 de Outubro de 1862 nos escritórios da editora Hetzel na rua Jacob, nº18, em Paris:


A referência de Verne em Paris não se fica só pela cidade.
Nas redondezas, a 32km do centro da cidade, encontra-se a Disneyland Paris, um dos principais parques temáticos da Disney no Mundo.
Lá, e citando o meu amigo Carlos Patrício, existe o "departamento J. Verne" com a atracção Space Mountain que pretende simular o disparo e a viagem que os nossos heróis do Gun Club experimentaram na obra verniana "Da Terra à Lua". Digo-vos que só lá entrei e viajei devido à referência a Verne pois aquilo que eu imaginava concretizou-se. Fiquei totalmente enjoado.


Junto à simulação encontra-se, para mim, a maior pérola do parque. Uma réplica do submarino Nautilus utilizado no filme de grande sucesso de 1954, "20.000 Léguas Submarinas":


Para minha surpresa, ao lado encontra-se uma entrada para uma suposta visita ao interior deste monstro de aço. Muito interessante ver o ataque da lula gigante ao submarino, a sala das máquinas, o quarto do Cap. Nemo, os seus mapas,...


Sem dúvida, uma viagem inesquecível!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Ariel Pérez lança livro sobre Jules Verne


Ariel Perez Rodriguez, o nosso amigo e criador da revista "Mundo Verne", apresentou, na Feira Internacional do Livro de Havana, o seu novo livro sobre Jules Verne "Viaje al Centro del Verne Desconocido" (trad. "Viagem ao centro do Verne desconhecido" ), um título que é também o nome do seu site dedicado ao escritor francês.

Neste novo livro de 384 páginas, podemos encontrar não só a biografia, bibliografia, um capítulo inteiro sobre a relação entre JV e as Antilhas, como também a primeira tradução em castelhano de obras como "Mariage de M. Anselme des Tilleuls", "Vingt quatre minutes en ballon", "Les méridiens et le calendrier", e alguns poemas!

Se Verne era desconhecido para o lado do Caribe, agora deixará, com certeza, de o ser!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

David Fincher leva ao cinema «20.000 Léguas Submarinas»

Após o sucesso de crítica e público de «O Estranho Caso de Benjamin Button», o realizador David Fincher não tem tido mãos a medir: está prestes a terminar «The Social Network», sobre os criadores do Facebook, foi escolhido para dirigir a versão norte-americana do primeiro livro da série «Millennium», de Stieg Larsson, e agora está a trabalhar com a Disney numa nova versão do romance «20.000 Léguas Submarinas», de Júlio Verne.

O projecto, que a Disney já levara ao ecrã com imenso sucesso em 1954, surgira há alguns anos pela mão de McG («Exterminador Implacável: A Salvação») como uma prequela à história original. Essa versão pretendia apresentar a origem do Capitão Nemo e a construção do seu submarino, o Nautilus, tendo Will Smith e Sam Worthington sido considerados para o papel principal.

O filme, uma super-produção de 150 milhões de dólares, acabaria por ser cancelado, entre outros factores por ser demasiado negro, mas volta agora a renascer pelas mãos de David Fincher, que terá oferecido os seus serviços à Disney para trabalhar num grande projecto. O estúdio do Rato Mickey ter-lhe-á atribuído precisamente a nova versão de «20.000 Léguas Submarinas», e juntou o cineasta ao argumentista Scott Z. Burns (que co-assinou «Ultimato»), para criarem uma nova abordagem às aventuras do Capitão Nemo.

O objectivo, segundo algumas fontes, é criar uma aventura visualmente espectacular, ao estilo de «Guerra das Estrelas» ou «O Império Contra-Ataca».

Ao mesmo tempo que foi divulgada a notícia do projecto da Disney, a Fox também fez saber que está a desenvolver a sua própria adaptação do romance de Verne, a partir de um argumento de Travis Beacham («Confronto de Titãs») e com Timur Bekmambetov em conversações para dirigir. Esta versão deverá seguir fielmente o esqueleto do romance, apesar de se passar no futuro.

A mais célebre adaptação do romance de Julio Verne foi criada precisamente nos estúdios Disney, em 1954, realizada por Richard Fleischer, com James Mason, Kirk Douglas e Peter Lorre nos papéis principais.

Fonte: CinemaSapo

domingo, 16 de maio de 2010

Ficção e Realidade, por José Diogo Quintela



"Na Viagem ao Centro da Terra, escrita em 1864, Júlio Verne relata uma expedição em que três exploradores, entrando por um vulcão islandês adentro, dão por si num mundo perdido, povoado por animais extintos e simiescos antepassados do homem. Uma espécie de regresso ao passado, portanto. Os dotes premonitórios de Verne são, de facto, estupendos. Quem diria que, mais de 150 anos depois da Viagem ao Centro da Terra, outro vulcão islandês nos iria enviar de volta ao passado. É o problema da boa ficção científica: passado algum tempo, deixa de ser ficção. (Não é só a Viagem ao Centro da Terra que bate certo. Ao mesmo tempo, por causa da atrapalhação no tráfego aéreo, nunca o A Volta ao Mundo em 80 Dias fez tanto sentido. É o tempo que alguém demoraria se tivesse escolhido aquela semana para dar uma volta ao mundo.)"

José Diogo Quintela, humorista português

(in Pública, 3 de Maio de 2010)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Uma nova versão do Nautilus

Este Nautilus é uma das criações fantásticas de Athur van Poppel baseado no romance de Jules Verne, "20000 Léguas Submarinas":