terça-feira, 25 de maio de 2010

'A Segunda Lua da Terra' por Paul Schlyter

Depois de o amigo Luís ter referido, num dos seus comentários, a 2ª lua que J. Verne cita na sua obra Da Terra à Lua, decidi colocar um excerto de um artigo de Paul Schlyter sobre a existência desta suposta 2ª lua à volta da Terra e referência desta na obra verniana.

Em 1846, Frederic Petit, director do observatório de Toulouse, anunciou que uma segunda lua da Terra tinha sido descoberta. Ela tinha sido vista por dois observadores, Lebon e Dassier, em Toulouse, e por um terceiro, Lariviere, em Artenac, durante as primeiras horas da noite de 21 de Março de 1846. Petit descobriu que a órbita era elíptica, com um período de 2 horas, 44 minutos e 59 segundos, apogeu de 3570 km acima da superfície da Terra e perigeu de apenas 11,4 km (!) acima da superfície do planeta. Le Verrier, que estava entre os ouvintes de Petit, respondeu por entre dentes, em tom de resmungo, que se precisaria levar em consideração a resistência do ar -- coisa que ninguém estava em condições de fazer naquela época. Petit ficou obcecado com a ideia de uma pequena lua ao redor da Terra, responsável por algumas até então inexplicadas peculiaridades no movimento de nosso satélite natural.

Os astrónomos, em geral, não deram atenção ao fato, e a ideia teria sido esquecida não fosse o fato de um jovem escritor francês, Júlio Verne, ter lido um breve resumo do trabalho de Petit. No romance de Verne, "Da Terra à Lua", um pequeno objeto passa próximo à nave espacial do viajante, forçando-a a girar ao redor da Lua, ao invés de chocar-se com o satélite:

"É um simples ", disse Barbicane -- "mas um meteorito enorme, capturado como satélite pela atração da Terra."


"Isso é possível?" -- perguntou Michel Ardan -- "a Terra ter duas luas?"


"Sim, meu amigo, ela tem duas luas, embora normalmente se acredite que ela tenha apenas uma. Mas essa segunda lua é tão pequena e sua velocidade é tão grande, que os habitantes da Terra não podem vê-la. Foi observando certos distúrbios em nossa lua que um astrónomo francês, Monsieur Petit, pode determinar a existência dessa segunda lua e calcular sua órbita. Segundo ele, uma revolução completa ao redor da Terra leva três horas e vinte minutos..."


"Todos os astrónomos admitem a existência dessa lua?" -- perguntou Nicholl.


"Não" -- respondeu Barbicane. "Mas se eles, como nós, a tivessem visto, não teriam dúvidas sobre ela... Mas isso nos possibilita determinar nossa posição no espaço... sua distância é conhecida, e estávamos, portanto, 7480 km acima da superfície do globo quando a encontramos."

Júlio Verne foi lido por milhões de pessoas, mas foi somente em 1942 que se observaram as discrepâncias no texto do escritor:
  1. Um satélite a 7480 km da superfície da Terra teria um período de 4 horas e 48 minutos, não de 3 horas e 20 minutos.
  2. Uma vez que o objeto foi visto da janela de onde o viajante não podia ter uma visão da Lua, enquanto ambos se aproximavam, ele devia estar em movimento retrógrado -- fato significativo que Verne não menciona em seu livro.
  3.  De qualquer modo, o satélite estaria em eclipse e, portanto, não seria visível. A cápsula não deixa a sombra da Terra senão muito mais tarde.
O Dr. R. S. Richardson, do Observatório de Monte Wilson, tentou, em 1952, fazer os dados se encaixarem. Admitiu ele uma órbita excêntrica para essa lua: perigeu a 5010 km e apogeu a 7480 km acima da superfície da Terra, excentricidade de 0,1784.

Mesmo assim, Júlio Verne tornou a segunda lua de Petit mundialmente conhecida. Astrônomos amadores logo viram aí a chance de se tornarem famosos: qualquer um que descobrisse essa segunda lua teria seu nome inscrito nos anais da ciência. O problema de uma segunda lua da Terra jamais mereceu a atenção dos grandes observatórios, e se tal atenção houve por parte de algum deles, nada foi divulgado. Alguns amadores alemães saíram a procura do que eles denominavam Kleinchen ("pedacinho"). Naturalmente, eles nunca encontraram o seu Kleinchen.

Para aqueles que pretendem saber um pouco mais desta 2ª lua, basta acederem ao artigo completo clicando aqui.

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