sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Um Bilhete de Lotaria (1885, 1886)


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Sinopse:

A acção decorre na Noruega, em 1862, quando ainda não existia caminhos-de-ferro e as belezas naturais predominavam. É neste cenário paradisíaco que o leitor conhece as atribulações da família de um jovem pescador que, na iminência de naufrágio do seu barco, escreve à noiva a última carta de amor nas costas do bilhete de lotaria N.º 9672.
Lançado à água dentro de uma garrafa, e após várias peripécias, este bilhete - ao qual a crendice popular atribuíra a certeza de receber o prémio - acaba por cair nas mãos de um ganancioso usurário que seria, portanto, o eventual ganhador. Mas o mar desempenhará, desta vez, o papel benfazejo de mensageiro da justiça e da felicidade!

1 comentário:

J. Maria Castanho disse...

A ficção de Júlio Verne não é apenas mais um registo literário de antecipação e ficção científica; é também, e principalmente, uma narrativa de costumes e tradições, um apanhado etnográfico, um relembrar do passado sob o pretexto do futuro, e uma reactualização dos valores humanos tão essenciais, quão comuns ao nosso tempo, como a família, a fidelidade, a fraternidade e a amizade, a responsabilidade e o compromisso, o trabalho e a sabedoria, a entre-ajuda e a partilha, a gratidão e a tenacidade, a fé e a esperança. (Que ainda continua verde, como sabeis!)
À parte disto, é inclusivamente, um autêntico tratado de psicologia infantil. Mas um manual muito especial, porquanto a terminologia, a linguagem em que se enuncia e expressa, o vocabulário que utiliza, obriga a uma leitura activa, de atenção contínua às prolepses e analepses, com bastantes retomadas de ponto e constantes consultas ao dicionário, tornando-a mais convidativa para os adultos, sobretudo àqueles que ainda se não esqueceram de ver o mundo pelos olhos de quem já foram, em anteriores gerações, porque a humanidade também o já foi, do que para a frugalidade juvenil, dos que preferem ir pela linha fora no prego a fundo, fruindo sim, mas sem a atenção nem o esmiuçar avaliador, por essas subtilezas e atrapalhações características do entendimento.
A acção desenrola-se na Noruega, num ambiente campesino de 1862, sob os auspícios do romance cor-de-rosa, em que o principal objectivo do escritor é voltar a juntar duas pessoas que o quotidiano separou, e a narrativa circula em torno de dois jovens, Hulda – de Hulda-a-Loura, e que a mitologia escandinava deixa errar como fada venturosa ao redor da lareira doméstica, lar – e Ole, o marinheiro seu noivo, que prometidos em casamento vêem os seus intentos frustrados, mercê de um "noticiado" naufrágio, precisamente na última viagem do rapaz e aquela que antecedia o momento da união matrimonial.
Na circunstância, Ole, ao saber-se em perigo, mete dentro de uma garrafa um bilhete de lotaria no verso do qual enuncia as suas expectativas e a situação trágica em que se encontra. Ao ser encontrado, este é entregue a Hulda, proporcionando algumas conjecturas e especulações. Até dissabores. Mas então, sendo ele fruto de um grande azar, vem depois propiciar a mais suprema das sortes – que eu não direi qual é, como é óbvio!... – num clímax perfeitamente legítimo. Mas tão legítimo, que mesmo aqueles que o lêem o sentem, e se comovem com ele. Juro!