Publicada pelo projeto “Santos-Dumont, de próprio punho”, uma reveladora entrevista dada ao jornalista Frantz Reichel para a revista francesa “Lectures pour tous”, em 20 de outubro de 1913, o pai da aviação fala sobre sua paixão pela conquista do ar, como seu interesse por voar começou e até sobre lembranças pessoais. A entrevista foi um dos destaques da primeira edição de 1914 da “Lectures pour tous”, tendo sido concedida um dia após a inauguração do famoso monumento do Ícaro, construído em Saint-Cloud para marcar o pioneirismo do brasileiro. Acredita-se que foi uma das últimas entrevistas do inventor antes da I Guerra Mundial, fato que iria mudar para sempre a Europa e também sua vida.
Deixamos um excerto desta magnífica entrevista onde Santos Dumond refere Júlio Verne, o maravilhoso romancista:
Quando e como (eu o interrompi) o senhor foi conduzido a se envolver com a aeronáutica, a se tornar o pioneiro da conquista do ar?
De maneira bem simples, que provavelmente parecerá inverossímil e extraordinária: graças às leituras de minha juventude fui influenciado a me apaixonar pela conquista do ar. E atribuo essa paixão ao maravilhoso romancista cujo gênio prodigioso, profético, nunca será célebre o suficiente, a Júlio Verne; espírito surpreendente de previsão que, com uma originalidade científica adivinhadora, construiu espontaneamente todas as grandes invenções modernas. Eu amo e venero Júlio Verne, e seria, da minha parte e da parte de todos, a pior ingratidão não reconhecer a influência considerável que ele teve no imaginário das novas gerações. Foi ele que deu a elas o gosto, a curiosidade pelas tentativas mecânicas mais audaciosas, poder-se-ia dizer as mais monstruosas. Tornou-as verossímeis, e a realidade mostrou que, na verdade, ele havia tido razão. Eu tinha, portanto, a ideia de me empenhar pela conquista do ar, que devia ser para o homem, quando fosse realizada, a causa de novas alegrias provocadas pela sensação vitoriosa de agir de maneira consciente, de viver a seu capricho, a sua vontade, em pleno ar livre. O balão esférico, do qual fui um adepto, não provoca essa sensação, essa exaltação vitoriosa. Quando levantamos em um esférico, não temos essa sensação de ação, essa impressão de movimento. É a terra que parece se distanciar; o aeronauta não tem a impressão de que ascende. Ele permanece como que imóvel”.
Leia a entrevista na íntegra em Santos-Dumont, de próprio punho.
Texto inicial de Priscilla Santos, do blog Grandes Entrevistas, e tradução da entrevista de Janaína Pinto Soares.
1 comentário:
Fantástica entrevista, uma declaração sensacional do gênio Santos-Dumont atestando a influência de Verne em sua busca pela conquista dos ares.
O inventor do avião demonstra humildade e, sobretudo, gratidão ao mestre francês. Belo depoimento.
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