sexta-feira, 5 de setembro de 2008

J. Verne e a Amazónia

Neste dia, 5 de Setembro comemora-se o Dia da Amazónia, a grande floresta do Mundo.

Como Júlio Verne nunca esteve na Amazónia, a paisagem real da sua obra foi desenhada a partir dos relatos de naturalistas que viajaram pela imensa floresta e a descreveram com as minúcias permitidas pelo conhecimento da época, como também pelas enciclopédias e pelos jornais que lia sistematicamente todos os dias.

A essas pesquisas associava-se uma imaginação literária e poética de grande sensibilidade político-social que valorizava a importância da ciência e da tecnologia.
Como disse o filósofo e escritor Michel Serres: “Desde a morte de Verne falta um escritor que dê à ciência o valor que ela merece. Até hoje, o próprio nome Júlio Verne evoca as imagens de um mundo onde o cientista era uma mente preocupada em preservar um futuro feliz e justo para a humanidade.

A Jangada


O que poderia justificar que sete anos depois da publicação da A Galera Chancellor (1874), Júlio Verne tenha retornado às águas amazonenses? O romance A Jangada, oitocentas léguas pelo Amazonas, é o primeiro de três romances de Júlio Verne consagrados exclusivamente ao curso de rios (os outros dois são: O Soberbo Orenoco, de 1898 e O Piloto do Danúbio, de 1908). Ao contrário do que ocorreu na A Galera Chancellor, a trajectória da jangada dá-se no sentido oposto: a embarcação construída numa pequena aldeia desce o rio Amazonas.

A Jangada é o relato de uma viagem até Belém, realizada pela família de um próspero fazendeiro que habitava Iquitos. O romance tem um duplo objectivo. O primeiro - anunciado para todos os membros da família -, era o casamento de Minha, a filha de João Garral, com um colega de estudos do irmão dela; o segundo era a solução de um problema jurídico de natureza criminal.

Na realidade, João, o pai, tinha as suas razões secretas: mesmo correndo o risco de uma execução, desejava obter a revisão de uma sentença que o condenara injustamente à morte pelo roubo de diamantes, 26 anos antes. Na época em que foi acusado, Garral trabalhava nas minas imperiais do Brasil em Vila Rica (hoje Ouro Preto), sob o nome verdadeiro de João da Costa. Depois de escapar à perseguição das autoridades foi morar em Iquitos, onde fez fortuna. De lá, partiu para recuperar sua inocência, depois de mais de um quarto de século.

Uma vez que o objectivo anunciado era um projecto familiar, Garral imaginou um meio de transporte que permitisse deslocar-se com toda a família. Com esta finalidade decidiu pela construção de uma enorme jangada, na verdade, uma gigantesca aldeia flutuante, capaz de conduzir todos os membros de sua fazenda pelo rio abaixo até Belém.

Uma 'mini-jangada' a subir o Amazonas

Profunda admiração pela Natureza

Ao lado dessa visão preconceituosa encontramos as mais belas, e por que não dizer, poéticas descrições sobre a natureza amazónica, nas palavras da personagem Minha:
Nada de mais magnífico que a parte direita do Amazonas. Aqui, numa confusão pitoresca, levanta-se uma grande quantidade de árvores diferentes, que, no espaço de um quarto de légua quadrada, podemos contar até cem variedades dessas maravilhas vegetais. (...) É uma sinfonia curiosa perante a qual nenhum indígena pode ficar indiferente. (...) Aqui revelam-se os mais belos representantes da ornitologia tropical. Os papagaios verdes, as araras barulhentas parecem ser os frutos naturais dessas gigantescas essências”.

Essa profunda admiração pela extraordinária mega biodiversidade é talvez um dos pontos mais objectivos da obra de Verne.

Diante do entusiasmo de Minha com referência à beleza e à riqueza da floresta amazónica, ela proíbe o irmão de usar o fuzil como caçador. Nesse trecho do romance, encontramos uma das mais belas conceituações relativas aos princípios do que seria a ecologia, disciplina científica que teve somente o grande desenvolvimento na segunda metade do século XX. Era a extraordinária perspicácia de Júlio Verne em antever os princípios do equilíbrio ecológico, justificando, sem dúvida, a admiração que cerca o trabalho de antecipação científica do escritor francês.


Interesse do autor é razão da escolha amazónica

A razão pela qual Júlio Verne - considerado o criador do romance geográfico - retornou à Amazónia está, sem dúvida, associada ao seu interesse de estudar - sob o ponto de vista geográfico - todas as regiões do globo terrestre; em especial aquelas que, por serem pouco exploradas, possuíam um belo aspecto misterioso, capaz de atrair não só a sua admiração, mas principalmente a dos seus leitores. Aliás, o seu interesse pelas viagens exploratórias estava associado à sua devoção pela natureza, em particular, características exóticas que envolviam a floresta amazónica, assim como a liberdade que dominava a vida nessas regiões longe da civilização.


O longo período de sete anos, que decorreu entre os romances A Galera Chancellor e A Jangada, deve estar associado ao seu grande interesse em concluir a sua pesquisa sobre a Amazónia. Com efeito, as referências ao Rio Amazonas e à floresta são sempre de admiração, os personagens manifestam-se assim:
O maior rio de todo o mundo!”.
O mais admirável e vasto sistema hidrográfico que existe no mundo!”.


Os viajantes: fontes bibliográficas de Verne.

Aliás, toda a visão sobre esse imenso território, que despertou o interesse dos viajantes estrangeiros que desde o século XVI estiveram a explorar e relacionando a riqueza da região: Orellana, oficial de um dos irmãos Pizarro, desceu o Rio Negro em 1540; Pedro Teixeira, o português que subiu o Amazonas até o encontro com o Rio Napo, em 1636; La Condamine, cujas pesquisas permitiram estabelecer de forma científica o curso do Amazonas, tendo sido completada por Humboldt e Bonpland, 55 anos mais tarde.

O próprio Júlio Verne relacionou os nomes de inúmeros exploradores e cientistas que estiveram na Amazónia. No livro de Verne, podemos verificar as informações de Bates, Agassiz, Humboldt, Spix, Martius, d’Orbigny, Condamine, entre outros. E foi a partir daí que Verne construiu a base científica do seu romance.

Na realidade dezenas e dezenas de aventureiros que exploraram e reviraram a região de ponta a ponta, como muito bem definiu Michel Riaudel, que concluiu, enquanto esperava ser beneficiado nessas viagens.

O Brasil ambicionava controlar melhor um território subpovoado enquanto as potências financiadoras esperavam tirar vantagens políticas, económicas ou comerciais.
É fácil verificar em Verne a visão do mundo dominante na época em que foi escrito o livro. Hoje é alvo de especulações e inveja de grande parte das nações do mundo, principalmente das poderosas, cujo grande objectivo é apoderar-se de uma dádiva que veio florescer em pleno território brasileiro a riqueza da Amazónia.

Mega-biodiversidade

Ao lado desta visão preconceituosa encontramos as mais belas e porque não dizer poéticas descrições sobre a natureza amazônica, nas palavras da personagem Minha:

Nada de mais magnífico que a parte direita do Amazonas. Aqui, numa confusão pitoresca, se levanta uma grande quantidade de árvores diferentes, que no espaço de um quarto de légua quadrada, podemos contar até cem variedades dessas maravilhas vegetais. (...) É uma sinfonia curiosa perante a qual nenhum indígena pode ficar indiferente. (...) Aqui se revelam os mais belos representantes da ornitologia tropical. Os papagaios verdes, as araras barulhentas parecem ser os frutos naturais dessas gigantescas essências.

Esta profunda admiração pela extraordinária megabiodiversidade é talvez um dos pontos mais objetivos da obra de Verne.

Diante do entusiasmo de Minha com referência à beleza e à riqueza da floresta amazônica, ela proíbe o irmão de usar o fuzil como caçador. Nesse trecho do romance, encontramos uma das mais belas conceituações relativas aos princípios do que seria a ecologia, disciplina científica que teve somente o grande desenvolvimento na segunda metade do Século 20. Era a extraordinária perspicácia de Júlio Verne em antever os princípios do equilíbrio ecológico, justificando, sem dúvida, a admiração que cerca o trabalho de antecipação científica do escritor francês.


A desflorestação da Amazónia

Salvar a Amazónia

Mas Verne também queria evitar que isto acontecesse, queria salvá-la, queria que quando falássemos em Amazónia nos lembrássemos da sua densa floresta tropical, biodiversidade incrível, da sua riqueza.

E ajudando o "Pulmão do Mundo" é com certeza algo que Verne gostaria e se sentiria orgulhoso pela sua obra ser um motor de arranque para este movimento.
E como a podemos salvar? Para começar, por exemplo, e se for uma das vencedoras já é um bom caminho, podíamos votar na grande floresta para ser eleita uma das 7 Maravilhas da Natureza no Mundo.
A organização das 7 maravilhas abriu essa votação e será uma chance para nós começarmos com o nosso movimento.

Esta vitória seria com certeza uma forma de homenagear J. Verne, neste ano em que se comemora o 180º aniversário do seu nascimento, como também a Amazónia, a personagem principal da magnífica obra que é A Jangada.

Fonte: Vários artigos sobre a Amazónia e Verne, A Jangada e citações do astrónomo/verniano Ronaldo Mourão.

3 comentários:

Carlos Patrício disse...

Viva a Amazônia, pulmão do Mundo!
E viva Verne, que mais uma vez se mostrou visionário, ao perceber a importância desse santuário ecológico para a saúde do nosso planeta.

Alberto disse...

Muito bom o livro "A Jangada". Li-o pouco mais de dois anos e apreciei muito. Parabéns pela bonita postagem,

Alberto

Anderson disse...

Que coincidência. É o livro que estou lendo no momento.
Já vou pelo 12º capítulo.