quinta-feira, 12 de maio de 2011

A estranha edição de '20.000 léguas submarinas'

Esta é, sem dúvida, um estranho caso bibliográfico. Sabia que a obra mais conhecida de Júlio Verne, 20.000 léguas submarinas, foi publicada pela primeira vez em formato de livro em 1869, não na França nem em francês, mas sim em castelhano e em Espanha?

Sim, esta é a historia da, quiçá, primeira edição pirata (ver imagem da esquerda) de um dos livros mais lidos e adaptados ao cinema da produção verniana.

Javier Román é um bibliófilo que colecciona primeiras edições em castelhano das obras de Verne, além de ter iniciado uma investigação sobre esta em particular. Pus-me então em contacto com ele onde me deu a sua permissão para vos expor uma comunicação que Javier enviou, num dia, para o Fórum Internacional em Castelhano de Júlio Verne.
Deixo-vos as suas palavras:

“Dou-vos a conhecer uma rareza bibliográfica: sabiam que a primeira edição completa da obra de Verne, 20.000 léguas submarinas, não foi publicada em francês, nem foi editada por Hetzel?
Curiosamente foi editada em castelhano e apareceu pela primeira vez ao mundo, completa e ilustrada, em Espanha, em 1869, dois anos antes da primeira edição completa francesa.

É necessário recordar que a obra foi publicada por fascículos em França, na Revista de Educação e Recriação durante dois anos, até finais de 1870.
Só no seguinte ano é que a obra completa, com ilustrações e agregada num só volume, foi publicada em França, por Hetzel.

Porém, esta versão, completa e com ilustrações, foi publicada em 1869, em Madrid (quando ainda não tinha aparecido a segunda parte na França), sendo o tradutor Vicente Guimerà, e o impressor-editor Tomás Rey e Cª, Editores.
Hoje em dia existem escassos exemplares desta obra, uns doze livros catalogados, estando um deles na Biblioteca Nacional de Espanha, alcançando o valor no mercado do livro antigo, de... US$ 20.000!

A informação que vos transmito foi extraída de varias espaços na Internet e de um trabalho realizado por uns jovens onde se tenta explicar esta edição "fantasma". O dito trabalho, realizado em 2009 por José María Chacón Losada e outros, recebeu um prémio pela investigação.

A hipótese que o dito trabalho se baseia, para explicar a edição fantasma da obra de Verne, parece-me muito razoável: aparentemente Vicente Guimerà, o tradutor, recebeu em 1869 o manuscrito de Verne com o fim de traduzi-lo para o castelhano para a editorial Gaspar e Roig, editora oficial das obras de Verne em Espanha, a qual possivelmente tinha um pacto com Hetzel de não publicar a obra em Espanha até ser lançada em França.
No entanto, o tradutor, que também trabalhava no Ministério das Finanças espanhol, traduziu a obra, mas é possível que antes de entregá-la à editorial Gaspar e Roig a tenha levado a outra editora que trabalhava para o Ministério das Finanças de Espanha, esta editora era... Tomás Rey e Cª.

Não duvidemos que Verne era já um autor de fama mundial, o qual contribuiu para dar solidez a esta hipótese. Gaspar e Roig não pode publicar a obra até 1872, possivelmente pelo acordo que tinha com Hetzel.

O desenlace desta trama não o sabemos, mas podemo-lo presumir. São tão escassos os exemplares de 1869 que não duvido que tivesse sido, entretanto, proibida a publicação a Tomás Rey e Cª.

Desta vocês não sabiam!”
JAVIER ROMÁN

Trabalho dos alunos de bacharelato:
20.000 leguas de viaje submarino: Historia de un engaño

Nota interessante sobre a editorial Gaspar e Roig:
Gaspar y Roig: la consolidación del género de aventuras en España

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Artigo editado por Javier Coria (www.javiercoria.blogspot.com) e enviado gentilmente para o Blog JVerne.

2 comentários:

Gugu Queirós disse...

Vinte mil leguas e meu livro preferido de JV e foi o meu primeiro dele que li. Tanto em espanhol ou portugues amo essa aventura!!

Carlos Patrício disse...

Que história, hein?
Verne escreveu várias obras envolvendo piratas... mas eu nunca soube que havia sido vítima deles!