segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Crítica 'As Atribulações de um Chinês na China (1879)'

Kin-Fo é um homem jovem, saudável, extremamente rico e profundamente entediado. Nem o casamento próximo com a bela Le-U o anima, o que leva seu amigo inseparável, o filósofo Wang, a acusá-lo de não ter passado por provações na vida, nem ter sentido a infelicidade, o desconforto ou a desgraça, e por isso não dar valor à real Felicidade.

Porém, uma notícia inesperada dá conta de que sua fortuna foi perdida com a falência do banco americano onde estava depositada.
Kin-Fo assina então um contrato numa Companhia de Seguros, cuja apólice beneficiaria Le-U e Wang no caso de sua morte (a qual ele planeja, com intuito de dar um último alento - e uma pequena fortuna - aos dois).

Em nome de sua infinita amizade, força Wang a se comprometer com ele em cumprir a missão de matá-lo, até o dia final do contrato de seguro de vida. Para isso, assina uma carta onde exime o portador de toda a culpa, assumindo sozinho a responsabilidade por seu ato.

Quando Wang desaparece, começa o "desconforto" de Kin-Fo, que aumenta quando ele recebe a notícia de que sua fortuna estava salva, e não perdida. Ele resolve atravessar a China tentando evitar de ser morto por seu até então melhor amigo (mas agora com muito dinheiro para ganhar com sua morte) antes que o contrato expire.

O "desconforto" de Kin-Fo cresce de forma insuportável quando ele recebe uma nota de Wang dizendo não ter reunido coragem para cumprir a promessa feita ao amigo - e passado a carta, e o montante a ser pago quando de sua morte, a um renomado e frio assassino, Lao-Shen.

Este romance, cheio de humor e aventuras, percorre o território chinês no final do século XIX, revelando aspectos culturais, religiosos e geográficos do país mais populoso do planeta.
Verne explora, com a maestria costumeira, os aspectos mais pitorescos e surpreendentes dessa civilização, à época e ainda hoje, bastante desconhecida.

No plano moral, o livro encerra uma lição de amor à Vida : o dinheiro tem um preço certo, mas os valores espirituais do homem - o livre arbítrio, a paz interior, a justiça, o Amor - são imensuráveis.

Crítica escrita por Carlos Patrício, um dos nossos conhecidos colaboradores aqui no blog JVernePt, a quem eu agradeço mais uma vez.

Se pretender comentar esta crítica faça-o aqui. Caso pretenda comentar a obra use a secção correspondente. Qualquer pessoa pode escrever uma crítica para qualquer obra. Para isso leia o tópico 'Críticas das obras'.

domingo, 16 de setembro de 2007

Secção 'Críticas das obras vernianas'

É com agrado que inauguro mais uma secção no nosso blog.

Nesta secção denominada "Críticas das obras" estarão regularmente presente críticas, sejam elas positivas ou negativas, sobre as diversas obras do autor. Estas críticas serão mais que um mero comentário (secção já aberta no blog). Serão opiniões mais desenvolvidas, ou seja, apresentarão descrição de aspectos objectivos que dêem sustentação à opinião do crítico. É de relembrar que uma crítica terá uma perspectiva descritiva (observar o que há de bom e/ou de mau numa obra), como também de avaliação.

Pretende-se com isto que haja no blog uma maior interacção entre os que nos visitam como também incentivar à escrita/leitura. Os nossos visitantes poderão comentar as críticas das obras que já leram e comentar se estão de acordo, ou não, com a opinião do crítico. Caso se apresente uma crítica de uma obra não lida, quem sabe se esta não abrirá o "apetite" para a sua leitura?

Temos neste momento algumas colaborações de críticos, que em breve disponibilizemos, mas também pretendemos que os nossos visitantes colaborem. Para isso enviem as vossas críticas para o email (indiquem a obra a analisar e o vosso nome), que iremos analisá-las e proceder, se assim determinarmos, à sua colocação no blog com o vosso respectivo nome. Com certeza irão ser uma mais valia para todos nós. Além disso, terão a oportunidade de ver o vosso trabalho divulgado na internet.

Espera-se que, com esta nova iniciativa, se fale, se discuta, se analise mais a obra de Verne que tão rica é.

Que seja um sucesso...

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

'The Secret Message of Jules Verne'

A tradução em inglês do livro Jules Verne, initié et initateur de Michel Lamy foi publicada nos Estados Unidos com o título The secret message of Jules Verne.

O livro original que apareceu em França em 2005 pela editora Payot foi agora publicado com uma capa chamativa e um título comercial.

O autor do livro pretende revelar nas suas páginas que Jules Verne, suposto iniciado nas ordens maçónicas e nas sociedades Rosa-cruz, terá uma mensagem secreta em código em algumas das suas obras, em particular na obra Clóvis Dardentor.

Essa mensagem, de acordo com Lamy, apenas descodificada pelos neófitos, revela a chave do mistério que envolve o fabuloso tesouro de Rennes-le-Château.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Programa 'Legendas da Ciência'

Este documentário pertence a um programa chamado "Legendas da Ciência", e a sua proposta é ajudar na compreensão da ciência, assim como as legendas de mapa cartográfico ajudam na compreensão do mesmo. Ajudar a entender a ciência no sentido histórico, cultural e principalmente filosófico.

O documentário foi escrito e narrado pelo filósofo Michel Serres (estudioso de Verne) e produzido por Robert Pansard-Besson.
Neste episódio chamado "Emergir", propõem-se a responder a seguinte pergunta :

"-Quanto e onde surgiu a Ciência?"

Para responder a esta pergunta o autor faz varias comparações. E entre estas, esta uma óptima análise comparativa entre a historia "Da Terra à Lua" de Júlio Verne com a conquista espacial e a explosão do vaivém espacial Challenger.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Revista 'Mundo Verne'

Aí está uma nova e-revista de 16 páginas inteiramente consagrada a Jules Verne.

O seu #1, o primeiro de uma longa série indubitavelmente, acaba de aparecer hoje mesmo. Intitulada "Mundo Verne", e vindo directamente da América Latina, esta quer ser a revista de referência sobre Jules Verne para todos os hispanófonos do mundo... que, digo eu, não deverá ter qualquer dificuldade em tornar-se, tendo em conta a qualidade da sua paginação e o seu conteúdo. Nesta revista e seguintes, haverá reflexões, opiniões, estudos, textos inéditos sobre a obra e vida do escritor.

Felitações ao seu inventor, Ariel Pérez, que reside em Cuba (dono do sítio já consagrado http://jgverne.cmact.com/), bem como os seus outros editores, Cristian Tello e Alvaro Mejia, ambos fãs vernianos.

Champanhe para este primeiro número, e uma longa vida à Mundo Verne!

Endereço da secção do site dedicada à revista:

http://jgverne.cmact.com/Misc/MVActual.htm

Download do número 1:

http://jgverne.cmact.com/Descargas/MV1.pdf

terça-feira, 21 de agosto de 2007

'A Volta ao Mundo de Willy Fog' em DVD

Baseada nas famosas obras de J. Verne, a série televisiva "A Volta ao Mundo de Willy Fog" é uma versão "felpuda", em que os protagonistas são animais, das histórias clássicas do célebre autor de ficção científica sobre a volta ao mundo em 80 dias, as viagens de balão e as jornadas ao centro da Terra.

Esta série, que foi transmitida na RTP e que se tornou um clássico da animação televisiva dos anos 80, chegou recentemente ao mercado de DVD, num disco que contém cinco episódios, nomeadamente "A aposta", "A partida", "Uma viagem acidentada", "À procura de Willy Fog" e "Willy Fog e o fantasma".

Serão 80 dias suficientes para dar a volta ao mundo?
Serão verdadeiras as crónicas de um espeleólogo islandês que diz ter viajado até ao centro da Terra?
Só há uma forma de responder a estas perguntas, isto é, acompanhando o cavalheiresco Willy Fog e os inseparáveis amigos Rogodón, Tico e a sua amada Romy nestas extraordinárias aventuras.

O nosso herói percorrerá os cinco continentes vivendo apaixonadamente aventuras e enfretando todo o tipo de obstáculos. Grutas sinistras, dinossauros selvagens, polvos gigantescos... Não há perigo que Willy Fog não possa superar! Não há mistério que não possa resolver!
Atreve-te a chegar o mais longe nesta aventura, baseada nas famosas obras de Júlio Verne.

Aqui fica a introdução:
alt : http://www.youtube.com/v/wqjXunIkmG4

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Homenagem a Verne em Vigo

Foi esculpida em Vigo (Espanha) no ano de 2005, aquando do centenário da morte do autor, uma estátua de Júlio Verne em bronze.
Infelizmente, apenas há duas semanas tive conhecimento da sua existência e por isso só agora a pude visitar.
Trata-se duma homenagem que a cidade de Vigo realizou a Júlio Verne (no centenário da sua morte), pela referência da baía de Vigo no capítulo VII do seu livro “20.000 léguas submarinas”, como também pela sua passagem na cidade em 1878 e 1884 aquando da viagem de Verne à nossa capital.




Se pretende reproduzir a foto no seu blog/site, por favor cite a fonte.

A estátua, esculpida por José Molares (1961-...), tem 4 metros de largura, 2 de fundo e 1, 75 de altura e representa o escritor francês sentado sobre os tentáculos de uma lula gigante.

Segundo explica o autor, para levar adiante o projecto inspirou-se nas lembranças que tinha de pequeno, "lembrei-me do capitão Nemo e da lula gigante. Por isso decidi sentar o escritor sobre uns tentáculos, dando um maior protagonismo à peça."

Está localizada nos jardins de Montero Ríos, entre o edifício administrativo e o Clube Náutico e foi doada à cidade pela Associação de Mulheres Empresárias de Pontevedra.

Porque não uma homenagem em Lisboa?

Júlio Verne, como disse atrás, visitou o nosso país em 1878 e 1884, tendo feito escala em Vigo nas duas vezes apesar de na segunda vez ter sido exclusivamente devido a uma avaria no seu iate. Estas paragens e a referência da baía de Vigo em “20000 Léguas Submarinas”, valeu-lhe um magnífica homenagem em Vigo mas, e em Lisboa?

Dessas duas visitas à nossa capital, permaneceu em cada uma delas três dias tendo visitado a cidade e jantado com altas celebridades da época.

Além disso são várias as referências a Portugal e aos descobridores portugueses em algumas das suas obras e por isso me pergunto o porquê de ainda não se ter feito nenhuma homenagem ao autor na cidade de Lisboa, cidade que Verne "mostrou a mais perfeita boa vontade"!

sábado, 21 de julho de 2007

'Jules Verne' a caminho do lançamento

A nave de carga «Jules Verne», o maior e mais complexo veículo espacial alguma vez construído na Europa, está terminada e já se encontra a caminho, por mar, da base da Agência Espacial Europeia na Guiana Francesa, de onde será lançada para o espaço no início de 2008.

Conforme recorda a edição desta segunda-feira do Diário de Notícias, a «Jules Verne» é o primeiro Automated Transfer Vehicle (ATV), estrutura que pode transportar um peso total de sete toneladas e meia, e que foi submetida a testes no centro técnico da Agência Espacial Europeia (na Holanda), durante três anos.

Dividida em três segmentos, a «Jules Verne» (com um peso total de sete toneladas e meia) levará, nesta primeira viagem por mar, 11 dias a chegar ao destino.

No mesmo cargueiro seguem mais peças e estruturas necessárias à remontagem que antecederá o lançamento.

Chegada a nave à base de Kourou, segue-se uma etapa de 18 meses que garantirá a sua remontagem e a preparação do lançamento, para o qual a «Jules Verne» será colocada num foguetão Arianne 5, seguindo então rumo ao seu destino, aproximadamente 400 quilómetros acima do solo.

A «Jules Verne» será o primeiro de cinco ATV a ser lançados para acoplagem à Estação Espacial Internacional ao longo dos próximos anos.

O seu desenvolvimento implicou um investimento de 1,3 mil milhões de euros.

Já agora aproveito para divulgar um vídeo sobre o ATV onde é referido o autor Júlio Verne:


FONTE: Diário Digital

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Crítica 'Viagem ao Centro da Terra (1864)'

Não sei ao certo onde comprei essa obra. Acho que foi em algum sebo, há muito tempo. Talvez a tenha herdado de alguém, algum dia. Não sei. Mas, ela estava lá, em minha prateleira, e, como fazia muito que não lia livros de literatura por simples entretenimento, resolvi dedicar uns 2 ou 3 dias para a leitura dessa obra tão famosa. É o tipo de obra que todos conhecem, mas sem nunca ter lido uma página. Sendo assim, já tinha uma idéia bem formada do que aconteceria a cada momento da obra, embora não conhece nenhum dos seus detalhes específicos. Ou seja, apesar de se tratar de ficção científica, em função do desgaste histórico da obra, não há surpresa nos fatos narrados; isso mais por conta do leitor (hoje) do que do livro, pois o leitor contemporâneo já está acostumado com esse gênero e provavelmente já assistiu desenho animado demais. Tudo bem, esse não é o tipo de obra que se deva ler pelas surpresas, há muito mais em jogo.

Das centenas de edições de "Viagem ao centro da Terra" (voyage au centre de la terra, no original) a que li foi a da Editora Ática, lançada em 1994 na coleção "Eu leio", traduzida por Cid Knipel Moreira. Quanto a qualidade da tradução não posso testemunhar, pois não sou habituado com o estilo de Verne, nem com o francês, mas no geral a edição é boa. No livro há cerca de 10 páginas tratando do autor e do livro, constando inclusive uma reprodução de uma das ilustrações originais da obra; Júlio Verne teria sido muito cuidadoso para que a obra fosse bem ilustrada, considerava fundamental a percepção visual de sua obra escrita. As ilustrações da edição que li foram feitas por um tal de "Bilau" e têm um estilo HQ, ou seja, com bastante atenção aos detalhes dos personagens (desenhados basicamente em caneta nanquim de ponta fina) e fazendo muitos jogos de luz e sombra. Esse estilo é interessante, mas eu acredito que peque um pouco na interação personagem/cenário. Fazendo uma analogia com o cinema, parece que as ilustrações foram "filmadas com fundo azul"; o cenário está lá, o personagem também, mas parece que eles não estão "juntos". Pela impressão que tive da gravura original, no original, em função do próprio estilo da ilustração, estão mais inteirados homens e paisagens, o que garante mais movimento para a cena.

Sobre a estória contada no livro há muitos aspectos que podem ser observados. Em linhas gerais ela relata a estória de um cientista do século XIX, defensor de uma antiga teoria que afirmava que a Terra era oca, que em seu centro provavelmente existiriam lagos e oceanos, possivelmente um sol central e talvez até formas de vida. Essa teoria, mesmo no século XIX nunca foi muito bem aceite pela comunidade científica, embora possuísse alguns vários adeptos; por outro lado a teoria do "fogo central" era a mais aceita (e continua assim até hoje), ela afirmava que o centro da terra é composto por uma fusão de metais em altíssimas temperatura e pressão. Na época houveram disputas épicas entre cientistas defensores de cada uma das teorias, alimentadas principalmente pelas falhas mútuas e impossibilidade de prática de testar a teoria (ir efetivamente ao centro da Terra e "ver" a verdade). Pois bem, o cientista da estória acha um registo de uma suposta viagem ao centro da Terra feita por um alquimista do século XVI. Com base nas anotações do alquimista ele parte para um vulcão que possuiria uma caverna que levaria ao centro da Terra. Junto com ele vai um guia nativo e seu sobrinho, este último completamente descrente de qualquer possibilidade de sucesso da expedição; o sobrinho é um jovem pesquisador defensor ferrenho da teoria do fogo central. Um aspecto interessante da obra é que durante toda a expedição tio e sobrinho travam várias batalhas teóricas, cada qual defendendo algumas das teorias e apelando aos "fatos" para convencer o outro do "delírio" que estaria sofrendo (a ambiguidade desta frase é propositada, faz parte de uma interpretação minha do tema). No decorrer da obra a teoria da terra oca é comprovada, fornecendo material para a explanação de vários fatos não explicados pela ciência da época, há encontros com animais fantásticos e os viajantes passam por uma série de problemas frente as dificuldades impostas por um terreno tão indeterminado e desconhecido; mas sempre seguem em frente como numa espécie de loucura científica, um fator psicológico bastante explorado na obra.

Essa obra é muito útil caso queiramos traçar paralelos com as crenças populares e o furor do desenvolvimento científico. Os séculos XVII à XIX foram muito felizes para a ciência, sobretudo quanto as expectativas que foram criadas quanto a sua profundidade (como no caso do positivismo). Com a ciência positiva muitos passaram a acreditar que poderíamos, com aquele método determinado, conhecer todas as coisas, sob todos os aspectos. De lá para cá foram só estocadas contra essa concepção e a própria ciência teve que se adaptar à muita coisa. Hoje, ficção científica é um gênero bastante respeitável, mas já perdeu muito espaço para tudo o que trata do espiritual, indeterminado, oculto e inexplicável. Essa atenção às verdades não-científicas já existia, mas, de maneira geral, foi tratada pejorativamente como crendice e era deixada um tanto de lado pela camada "culta"; hoje ressurge das cinzas e disputa espaço lado à lado com livros que retratam teorias conspiratórias - "sabe tudo aquilo que você julgava verdade, eles mentiram para você" -, enquanto a ficção científica cambaleia procurando uma nova forma.

Crítica escrita por Fernando Moreira, autor do blog Canecas: Idealismo Antártico, e cedida gentilmente para o blog JVernePt.

Se pretender comentar esta crítica faça-o aqui. Caso pretenda comentar a obra use a secção correspondente. Qualquer pessoa pode escrever uma crítica para qualquer obra. Para isso leia o tópico 'Críticas das obras'.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

O Sumiço do Lago Chileno... e Verne

Os jornais noticiaram, no mês passado, o misterioso desaparecimento de um lago inteiro, num parque natural da Patagónia, no Chile.


"Água desaparece sem explicação. No local, resta apenas uma cratera de 30 metros de profundidade", escreveu o diário brasileiro O Globo. E continua: "Integrantes da Corporação Nacional de Florestas (Conaf) daquele país estão a tentar entender o que aconteceu e pediram ajuda a geólogos. O chefe da Conaf, Juan Jose Romero, contou o que aconteceu:

- O lago tinha blocos de gelo flutuantes e os funcionários, durante uma ronda, espantaram-se ao ver que esses blocos estavam depositados no fundo de uma cratera: o leito seco do lago, desaparecido completamente da noite para o dia - explicou, ressaltando que era um lago de grandes proporções.

Mas ele não foi o único a desaparecer. Um rio caudaloso que o abastecia transformou-se num riacho. O local não tinha peixes porque era formado por águas glaciais."

Os motivos

Vários motivos foram expostos como os que poderiam explicar o fenómeno, alguns envolvendo causas naturais, como terramotos e o aquecimento global do planeta (teria a água simplesmente evaporado??) e outros com ares francamente sobrenaturais : um disco voador teria sugado a água do lago ... ou seria um castigo divino?

A essa altura do campeonato, os geólogos contratados pelo Sr. Romero já devem ter chegado à conclusão do que, afinal, aconteceu.

Principalmente, se algum deles leu Júlio Verne.

No seu livro de 1877, "As Índias Negras" ("Les Indes Noires"), Verne conta a história dos trabalhadores das vastas minas de carvão dos subterrâneos do Condado de Stirling, na Escócia. O nome do livro foi inspirado nas hulheiras de carvão a quem os britânicos chamavam de "Índias Negras", exactamente por terem contribuído tanto quanto as "Indias Orientais" para a riqueza do Reino Unido.

No capítulo dezoito desta obra, alguns dos personagens de Verne estão a bordo de um pequeno vapor que cruza o lago Katrine, logo acima das ricas cavernas, quando...

"... se manifesta dentro do lago assombroso fenómeno. A bordo, ainda que o navio estivesse meia milha afastado do cais, sentiu-se um choque, imprevisto e violento.
A quilha do vapor tinha encalhado no fundo, sendo inúteis todos os esforços para o arrancar dali.
É que o lago Katrine acabava de esgotar-se quase subitamente, como se por debaixo de seu leito se houvesse produzido imensa abertura. Poucos segundos depois, o lago estava completamente seco! Parecia uma praia vazante, por ocasião das grandes marés equinociais. As suas águas tinham-se escoado através das entranhas da terra!"

A explicação
Conta o mestre Verne:

"O leito do lago Katrine desmoronara-se subitamente e as águas haviam irrompido na hulheira logo abaixo através de uma larga fenda. Do lago nada restava que chegasse para molhar os lindos pés da Dama do Lago. Ficara reduzido a um charco de alguns acres, no ponto onde seu leito se encontrava a um nível superior ao da parte desmoronada.

A notícia do estranho acontecimento espalhou-se com rapidez. Era a primeira vez, sem dúvida, que um lago inteiro se esvaziava em curtos instantes nas entranhas do solo. Os geógrafos do Reino Unido tinham agora de riscá-lo dos mapas..."

Verne conclui:
"O acidente, contudo, era explicável e nada tinha de incompreensível.
Efectivamente, os terrenos secundários, entre o leito do lago e as minas de carvão de Nova Aberfoyle estavam reduzidos a uma delgada camada de terra, em consequência de uma disposição geológica particular àquela parte da crosta terrestre."

Um pequeno terramoto, ou mesmo uma acomodação geológica, como a que abriu a fenda no fundo do Katrine, quase inundando as hulheiras escocesas na aventura verniana, foi a causa do desaparecimento do lago chileno.
A fenda agiu como um verdadeiro ralo, esgotando suas águas para um espaço cavernoso situado logo abaixo dele.

Veja aqui as reportagens: Bbc.co.uk, Globo.com, Portugal Diário

Texto escrito por Carlos Patrício e cedido gentilmente para o blog JVerne.