quinta-feira, 5 de julho de 2007

O Sumiço do Lago Chileno... e Verne

Os jornais noticiaram, no mês passado, o misterioso desaparecimento de um lago inteiro, num parque natural da Patagónia, no Chile.


"Água desaparece sem explicação. No local, resta apenas uma cratera de 30 metros de profundidade", escreveu o diário brasileiro O Globo. E continua: "Integrantes da Corporação Nacional de Florestas (Conaf) daquele país estão a tentar entender o que aconteceu e pediram ajuda a geólogos. O chefe da Conaf, Juan Jose Romero, contou o que aconteceu:

- O lago tinha blocos de gelo flutuantes e os funcionários, durante uma ronda, espantaram-se ao ver que esses blocos estavam depositados no fundo de uma cratera: o leito seco do lago, desaparecido completamente da noite para o dia - explicou, ressaltando que era um lago de grandes proporções.

Mas ele não foi o único a desaparecer. Um rio caudaloso que o abastecia transformou-se num riacho. O local não tinha peixes porque era formado por águas glaciais."

Os motivos

Vários motivos foram expostos como os que poderiam explicar o fenómeno, alguns envolvendo causas naturais, como terramotos e o aquecimento global do planeta (teria a água simplesmente evaporado??) e outros com ares francamente sobrenaturais : um disco voador teria sugado a água do lago ... ou seria um castigo divino?

A essa altura do campeonato, os geólogos contratados pelo Sr. Romero já devem ter chegado à conclusão do que, afinal, aconteceu.

Principalmente, se algum deles leu Júlio Verne.

No seu livro de 1877, "As Índias Negras" ("Les Indes Noires"), Verne conta a história dos trabalhadores das vastas minas de carvão dos subterrâneos do Condado de Stirling, na Escócia. O nome do livro foi inspirado nas hulheiras de carvão a quem os britânicos chamavam de "Índias Negras", exactamente por terem contribuído tanto quanto as "Indias Orientais" para a riqueza do Reino Unido.

No capítulo dezoito desta obra, alguns dos personagens de Verne estão a bordo de um pequeno vapor que cruza o lago Katrine, logo acima das ricas cavernas, quando...

"... se manifesta dentro do lago assombroso fenómeno. A bordo, ainda que o navio estivesse meia milha afastado do cais, sentiu-se um choque, imprevisto e violento.
A quilha do vapor tinha encalhado no fundo, sendo inúteis todos os esforços para o arrancar dali.
É que o lago Katrine acabava de esgotar-se quase subitamente, como se por debaixo de seu leito se houvesse produzido imensa abertura. Poucos segundos depois, o lago estava completamente seco! Parecia uma praia vazante, por ocasião das grandes marés equinociais. As suas águas tinham-se escoado através das entranhas da terra!"

A explicação
Conta o mestre Verne:

"O leito do lago Katrine desmoronara-se subitamente e as águas haviam irrompido na hulheira logo abaixo através de uma larga fenda. Do lago nada restava que chegasse para molhar os lindos pés da Dama do Lago. Ficara reduzido a um charco de alguns acres, no ponto onde seu leito se encontrava a um nível superior ao da parte desmoronada.

A notícia do estranho acontecimento espalhou-se com rapidez. Era a primeira vez, sem dúvida, que um lago inteiro se esvaziava em curtos instantes nas entranhas do solo. Os geógrafos do Reino Unido tinham agora de riscá-lo dos mapas..."

Verne conclui:
"O acidente, contudo, era explicável e nada tinha de incompreensível.
Efectivamente, os terrenos secundários, entre o leito do lago e as minas de carvão de Nova Aberfoyle estavam reduzidos a uma delgada camada de terra, em consequência de uma disposição geológica particular àquela parte da crosta terrestre."

Um pequeno terramoto, ou mesmo uma acomodação geológica, como a que abriu a fenda no fundo do Katrine, quase inundando as hulheiras escocesas na aventura verniana, foi a causa do desaparecimento do lago chileno.
A fenda agiu como um verdadeiro ralo, esgotando suas águas para um espaço cavernoso situado logo abaixo dele.

Veja aqui as reportagens: Bbc.co.uk, Globo.com, Portugal Diário

Texto escrito por Carlos Patrício e cedido gentilmente para o blog JVerne.

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