quarta-feira, 16 de junho de 2010

Esperanta Klubo Jules Verne

Está para ser fundado oficialmente o Clube Esperantista Jules Verne e para o homenagear, publico aqui um texto que fala sobre a relação de Júlio Verne com o Esperanto.

O centenário da morte de Júlio Verne (1828-1905) foi marcado por abundantes trabalhos e artigos obre o autor e sua obra. Aparentemente tudo foi dito a respeito do tema. O que de novo ou não publicado se pode ainda descobrir?

O autor de “Viagens Extraordinarias” (Voyages extraordinaires) sempre sonhou com uma sociedade ideal constituída de cidadãos responsáveis e prudentes, e uma humanidade mais culta e justa, posicionando-se mais zelosamente a respeito de seu destino sem a ajuda de algum Deus ou providencia humana. Esta humanidade – para poder viver mais harmoniosamente – deve possuir recursos universais de comunicação, uma língua comum.

J. Verne estava convicto que uma língua construída universal poderia ser viável. Ele referiu isto em “20.000 leguas submarinas” (Vingt mille lieues sous les mers). A equipe do Nautilus consistia de pessoas de diversas nações: espanhóis, turcos, árabes, indianos, capazes de intercomunicar-se somente por um “idioma estranho, único e absolutamente incompreensível“. Tratava-se de uma linguagem conhecida apenas por eles, uma língua inventada, a qual não puderam compreender os ‘hospedes’ embarcados contra a vontade.

Eis o desagradável em não se conhecer todas as línguas“, observa um dos personagens do romance, ”ou a desvantagem de não se ter apenas uma língua”. Foi acrescentado pelo autor “idioma sonoro, harmonioso, flexível, o qual possui vogais aparentemente submetidas a acentuação bastante variável“.

A menção a este idioma repetiu-se uma dezena de vezes na obra. Martela no texto de Jules Verne a alusão à língua “sonore, harmonieuse, flexible”, o qual todo esperantista pode encontrar em muitos livros e textos dedicados a Língua Internacional: “belsona, harmonia, fleksebla”. Conclusão: a tripulação do Nautilus esprimia-se em esperanto.

 Bandeira do Esperanto

Infelizmente este argumento confronta-se com um importante contra-argumento: "20.000 léguas submarinas" publicou-se pela primeira vez na “Revista de educação e recreação“ (Magasin d’éducation et de récréation) em 1869. Logo, dezoito anos antes do aparecimento da tradução francesa da brochura de Zamenhof intitulada “Língua internacional do Dr. Esperanto” (1887). Portanto, em 1869, J. Verne não poderia saber sobre uma língua ainda não existente. Poderia tratar-se do Volapük (outra língua)? Também não. O primeiro livro de estudos sobre volapük surgiu somente em 1880. Aliás, as qualificações de “sonora, harmoniosa, flexível” não convém à deselegante e complicada linguagem do padre alemão Schleyer.

Aqui manifestou-se anacronismo, o qual podemos logicamente atribuir a posterior rearranjo do texto original por parte do autor durante as reedições.

Todos sabem que J. Verne teve paixão pela Língua Internacional. Sua sobrinha, senhorita Allotte de la Fuÿe, atesta sobre isto em sua correspondência: – “Jules Verne é partidário do esperanto. Ele intenta dedicar um volume a este tema e opina que a chave da língua humana perdida na torre de Babel deve estar forjada artificialmente”.

Em 1903, tornou-se membro de um grupo esperantista na cidade de Amiens, cidade onde morava o escritor, depois de ter assistido a uma palestra de Theophile Cart sobre o tema. Jules Verne aderiu prontamente. Ali, ele tinha dois amigos: Charles Tassencourt, o presidente, e Joseph Delfour, famoso esperantista. Ambos propuseram a presidência honorária ao romancista, o que ele aceitou favoravelmente. Em todo caso, ele prometeu compor um romance louvando os méritos do esperanto.

Ele manteve sua promessa. Porém, devido a doença, cansaço, um pouco de surdez e cegueira, ele não pode terminar a obra. Até à sua morte (24 de Março de 1905), ele havia escrito somente os quatro primeiros capítulos. É interessante atentar para alguns ditos colocados na boca de personagens do conto.

O esperanto é uma língua simples, flexível e harmoniosa, útil tanto para uma prosa elegante como para inspirados poemas. É capaz de expressar todos os pensamentos e os mais delicados sentimentos da alma. É a língua internacional ideal. A principal ideia para esta formação é a eleição dos radicais proporcionalmente as suas internacionalidades, estes foram eleitos conforme segundo votos internacionais”- Jules Verne

E o autor acrescentou que “O estudo do esperanto de forma alguma apresenta dificuldades para a pronúncia ou a memória. Todos aprendem como respiram…”.

Este ultimo trabalho, intitulado "Viagem de Estudos" (Voyage d’étude), é a ultima obra sobre a qual trabalhou meu pai”, escreveu seu filho Michel em 30 de Abril de 1905. Como dito atrás, até à morte do escritor, o mais rudimentar esboço consistia de quatro capítulos mais o começo do quinto. Com certeza que o escritor pretendia que um tema do conto tratasse da aventura de uma missão colonial na África, um outro sobre o esperanto.

Michel Verne retomou o manuscrito de seu pai, modificando-o, intitulando-o “A espantosa aventura da missão Barsac” (L’étonnante aventure de la mission Barsac). Ele empreendeu um verdadeiro arremedo do «Viagem de estudos» condensando os primeiros quatros capítulos em um só e não respeitando o local e data os transladando do Congo francês a Guiné. Por outro lado, seu romance, o qual finalizado consistia de 15 capítulos, trata somente sobre colonialismo excluindo todas as alusões ao esperanto. Estes fatos, Charles-Noël Martin não julgou serem dignos de menção no prefácio da “A espantosa aventura da missão Barsac”.

Foi o destino de Jules Verne que ele morresse somente 5 meses antes do 1º Congresso Internacional de Esperanto organizado em Bolonha de 5 a 13 de Agosto de 1905. A celebração do centenário deste evento evidenciou a vitalidade desta língua, a qual o autor de “Viagens Extraordinárias” considerou ”o mais seguro, o mais rápido veículo da civilização”.

O actual acesso à Internet torna possível aprender sobre uma língua viva que, até agora, uma conspiração silenciosa na história tinha tentado sufocar.

Ao antever o belo futuro prometido ao esperanto, única língua verdadeiramente universal, Jules Verne, mais uma vez, acertou.

Uma boa dica para quem quiser saber mais é este livro, Jules Verne esperantiste!, de Lionel Dupuy.


Artigo escrito por Cândido Ruiz, do Blog Absinthium, e cedido gentilmente para o Blog JVernePt.

1 comentário:

Cândido Ruiz disse...

O Clube já possui um blog através do qual se pode contatá-lo! - www.ipernity.com/home/eklubojulesverne