Sabendo que Lobo Antunes se deslocava no dia de hoje à 78ª Feira do Livro da minha cidade, Porto, concluí que seria uma excelente oportunidade, não só para me autografar um livro, como também para tentar conversar um pouco com ele a respeito de um dos grandes escritores de sempre que ele admirava, J. Verne.
Lá, esperei ansiosamente pelo momento e, 15 minutos antes da hora marcada, chegava o escritor, ficando rapidamente rodeado pelos órgãos de comunicação televisivos.
À hora, e com o seu característico cigarro na mão esquerda, iniciou uma pequena palestra de duração a rondar os 5-7min onde disse, com a sua frontalidade, que:
"Sou escritor e quem quiser o ser para ser famoso ou ganhar dinheiro é melhor ir para cantor. Felizmente que se lê cada vez mais em Portugal, e isso é bom, pois só as mentes que não lêem são controladas pelos outros. Mas não se ganha muito dinheiro a escrever e só somos famosos se, no meu caso, fizerem o favor de nos dar prémios. Nunca gostei de os receber, pois não gosto de aparecer, e só os faço por vocês que me ajudaram. É a minha forma de agradecimento a todos aqueles que gostam de mim, que lêem os meus livros.
Por isso, irei estar aqui até ao último livro para autografar. Tragam os livros que quiserem, quantos quiserem e façam todo o tipo de perguntas que eu responderei como quiser!
Muito obrigado a vocês por tudo."
Foi altura de escolher um livro mas qual seria? Tinha o Manual dos Inquisidores em casa e por isso esse estava fora. Restavam outros livros muitos deles desconhecidos para mim inclusive o último O meu nome é Legião. Inclinei-me para ele mas questionava-me ao mesmo tempo, e se o escritor me pergunta "O que te fez optar por este livro?", eu não queria responder o que a maioria faria nessas circunstâncias dizendo "Porque é o último!" ou "Porque já vai na **ª edição". Não, queria um que me dissesse algo e após algum tempo, encontrei-o.
Não poderia ter encontro livro melhor para mim. Eu, um amante do meu país, dos portugueses e da sua cultura, segurava o livro O Esplendor de Portugal. Não só o título me tinha "chamado" como também a sua belíssima capa onde estava uma belíssimo foto de amor e de saudade... Tinha já com certeza algo para responder caso o escritor me questionasse.
Sem saber, a minha sorte começara aqui...
Com o livro na mão, dirigi-me para a longa fila que já se fazia sentir junto do escritor.
O meu corpo tremia por dentro com medo de não saber o que dizer, de me atrapalhar todo ou de nem conseguir dizer qualquer palavra. À medida que me aproximava de tal ilustre pessoa, ficava pior, em pânico, com a certeza absoluta que ia "fazer asneira".
O leitor à minha frente saiu e ali estava eu frente-a-frente com o grande escritor português. Além disso, admirava-o muito pois ele não tinha medo de dizer quais as suas influências literárias, de quem gostava e admirava.
Cumprimentei-o, e sem mais nada dizer, estiquei-lhe o livro. Após ter olhado para ele durante breves momentos (pelo olhar pensativo na direcção da obra penso que terei sido o primeiro a apresentar-lhe tal livro até àquele momento) perguntou-me, "diz lá se não escolheste este livro graças a esta belíssima foto?" "Sem dúvida," respondi-lhe eu, "é uma belíssima imagem!".
Tinha conseguido! Sem saber, tinha-me posto "à vontade" e tínhamos iniciado "conversa", algo que me teria sido bastante complicado fazer. Aproveitando, nova pausa, avancei "Sabe, tenho um site sobre Júlio Verne e recentemente vi um vídeo de uma entrevista que fez no Brasil da qual gostei muito. Diz-lá que Júlio Verne é uma grande escritor e realmente tem razão. Ele, como o António, também o é." Lobo Antunes, encostando-se na cadeira diz-me: "Sem dúvida, Júlio Verne é um grande escritor....Só de pensar que há tanta merda por aí à venda como acontece aqui na feira..." Continuou "Sabe, ele tem um rótulo de autor infantil/juvenil e é muito mais do que isso...ele é um grande escritor!" "Sem dúvida, e isso entristece-me muito." afirmei.
Após ter dito o meu nome, idade e o que estudava, este sorriu e autografou o livro. Enquanto o fazia, continuei "Disse uma frase curiosa na entrevista: É preciso tomar lições de abismo!". "É verdade", disse-me "Está na Viagem ao centro da terra...Júlio Verne tem frases fantásticas nas suas obras!" afirmou o escritor com um sorriso.
Despediu-se com um aperto de mão e com palavras de boa sorte em tudo. Respondi-lhe com "Foi um prazer conhecê-lo!".
E sem dúvida que o foi...
2 comentários:
Gostei muito. Foi criado um link para cá do site não oficial sobre António Lobo Antunes.
É bom saber que um escritor como Júlio Verne, que deu tao grande contributo à literatura, não está esquecido.
Uma digna homenagem a um grande escritor... Parabéns e continua!
p.s. se quiseres passar também pelo meu blog: www.blogemquestao.blogspot.com
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