domingo, 24 de junho de 2007

Crítica 'A Volta ao Mundo em 80 Dias (1873)'

Inúmeros clássicos da ficção se tornam clássicos não apenas pela originalidade frente a seu tempo, mas, sobretudo, pela ousadia de empreender uma trama baseada em hipóteses que futuramente podem soar ridículas. É o caso da obra-prima de Júlio Verne, escrita em 1873, A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, uma das primeiras que inspirariam milhares de livros e filmes de entretenimento consumidos pela posteridade.

Mas qual o atrativo de tal aventura terrestre, se um avião pode circundar o globo em menos de 72 horas? A verdade é que, 200 anos depois do lançamento da ficção (que hoje caberia em um reality show), não deixa de ser incrível a saga de Phileas Fog, um inglês que apostou altas quantias em dinheiro para vencer o desafio de percorrer o mundo em dois meses e meio – um abuso para os cálculos da época.

Acompanhado de seu dócil criado, o francês Jean Passepartout, o apostador atravessa oceanos a navios a vapor, estradas a trem, selvas a pé e até em um elefante. Tudo cronometricamente planejado para que, em 80 dias, Phileas Fog esteja novamente em seu ponto de partida, Londres, ao encontro de seus desafiantes. Mas como toda boa aventura, o inglês encontra uma série de empecilhos que provocam o atraso da viagem. E como se a história tivesse bem menos que 200 anos, os ingredientes de qualquer filme de ação convencional podem ser encontrados na obra de Júlio Verne: a mocinha, na pele de uma jovem indiana, é salva pelo herói – o personagem principal – que a livra de ser morta, em plena viagem, por tribos religiosas nas selvas orientais.

Para encontrar a qualidade ímpar do livro, é preciso se despojar de qualquer esperança hiper-realista, e, naturalmente, considerar o contexto social em que foi escrita a ficção: é claro que Verne não dispensa pitadas de romantismo logo nos momentos quando tudo parece perdido. Em outras palavras, nada que a sorte extrema ou o dinheiro inesgotável não resolvam, seja uma ajuda inesperada e improvável que cai do céu, seja um suborno que convence qualquer personagem a adiantar a viagem do inglês – neste ponto, o ser humano prova que é universal. Quem não gosta de histórias que abusam da sorte, no entanto, pode se decepcionar.

Deixando de lado a aventura quase fantástica em volta do planeta, a graça do livro encontra-se exactamente na sua curiosa arquitectura, que não passa de uma alegre brincadeira matemática, do início ao fim. Levando-se em conta as limitações da época, a baixa velocidade dos trens e navios do século XIX tornam a aventura mais electrizante – tamanha lentidão que os tempos modernos destruiriam sem esforço: qualquer tentativa de vencer o espaço antes do tempo em nosso século é prontamente atendida pela velocidade do avião, esse estraga-prazer. Não podemos nos dar ao luxo de percorrer o globo em 80 dias e virarmos heróis. Mas o personagem de Júlio Verne pode. Aí reside o espírito de um clássico.

Crítica escrita por Taís Laporta, autor do blog Arte Facto, e cedida gentilmente para o blog JVernePt.

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terça-feira, 19 de junho de 2007

'Jules Verne' lançado em Julho

O lançamento de 'Jules Verne, o primeiro ATV (Automated Transfer Vehicle) europeu, irá ser lançado em Julho de 2007, depois da conclusão, com sucesso absoluto, dos testes térmicos e de vácuo à cápsula realizados na Holanda, no European Space Research & Tecnology Center.



O cargueiro “Jules Verne” vai ser o primeiro de vários veículos do género que a Agência Espacial Europeia (ESA) quer operar para manter abastecida de homens e materiais a Estação Espacial Internacional, até ao fim da vida operacional da estação.

Embora estivesse originalmente calendarizado para 2003, o lançamento foi atrasado por várias vezes, sobretudo devido a problemas com o software de acoplagem à ISS que obrigaram a ESA a criar um sistema de acoplagem automático redundante, já que o AVT não tem um sistema manual de emergência para realizar acoplagens.

Mais informações (em inglês) em ESA.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Referências de Verne nos 'Piratas das Caraíbas'

São algumas as referências de obras de J. Verne na trilogia "Os Piratas das Caraíbas".

Podemos não só ver o raro fenómeno Raio Verde (último raio de Sol quando este se põe) da obra com o mesmo nome, como também a Lula Gigante (Kraken) e o famoso remoinho Maelstrom, ambos referidos em "20000 Léguas Submarinas".

Numa entrevista com os produtores sobre um 4º filme (em 2011), estes disseram que poderá ser possível mas apenas com a participação de Johnny Depp. Curiosamente, além de estarem interessados em acrescentar mais elementos de ficção-científica na nova história tendo como inspiração as obras do escritor J. Verne, disseram que o quarto filme poderá passar pela Atlântida (Verne refere esta cidade submersa em "20000 Léguas Submarinas") aonde nenhum pirata foi antes.

Falam também de possível encontro com "um homem que quer governar mais do que o oceano com o mais famoso e perigoso pirata de todos os tempos". Será o encontro de Nemo com Sparrow? Vamos esperar para ver...

Passo a transcrever o excerto da entrevista:
"Algumas das ideias dentro do estúdio envolvem não só a fonte da juventude, mas ficção científica estilo Júlio Verne, com grandes máquina voadoras, um homem que quer governar mais do que o oceano e o encontro com o mais famoso e perigoso pirata de todos os tempos, além da corrida para chegar a um mundo perdido, aonde nenhum pirata foi antes."

domingo, 10 de junho de 2007

Crítica 'A Invasão do Mar (1902)'


Parece-me que estou a ouvi-los: "Quê?! Júlio Verne?!"
Sim, Júlio Verne, e depois? É um dos grandes clássicos da FC, mesmo que aquilo que escreveu tenha sido na sua maior parte reciclado para literatura juvenil. Escreveu romances e contos da FC mais "hard" do seu tempo, ainda que, em retrospectiva, a fantasia pareça por vezes delirante. O cinismo sabichão do século XXI pode rir-se, por exemplo, da ideia de viajar até ao centro da Terra e lá encontrar um ecossistema mesozóico, mas no século XIX tudo isso estava bem dentro do reino do possível. Parece que o bom velho Verne fazia questão nisso. E aqueles que, mesmo que não o saibam, são seus seguidores, continuam a fazê-la.
Quanto a este livro, A Invasão do Mar, está longe do melhor Verne. Um grupo de engenheiros da França colonial embarca num projecto megalómano que pretende, através de canais que façam comunicação com o Mediterrâneo, criar um mar interior na cadeia de chotts (Djerid e Melrir) que atravessam a zona central da Tunísia e entram pela Argélia. O projecto é contrariado pelos tuaregues locais, que vêem o seu estilo de vida ameaçado. E eis o conflito gerado.
O livro desenvolve-se à boa maneira dos romances de aventuras, género em que Verne era exímio. São 200 páginas de peripécias e perigos de que os heróis têm de escapar, sejam naturais (o meio ambiente é bastante adverso), sejam artificiais (os inimigos são ardilosos e conhecem melhor a zona que os heróis). Tudo isto é coroado por um deus ex-machina que encerra a história e põe fim ao suspense num capítulo de 9 páginas intitulado "Desfecho" e onde, à boa maneira das telenovelas, tudo acontece ao mesmo tempo. Obviamente não vou falar mais dele - o livro perde interesse se se conhecer a sua chave de antemão. Mas tenho de dizer que é fundamentalmente devido a esse desfecho e a uma certa atmosfera que hoje lembra o steampunk, que o romance se pode enquadrar dentro da literatura fantástica.
Os deus ex-machina, quando aparecem, são sinal seguro de que algo não correu lá muito bem com a história. É o caso. Não só dá por vezes a ideia de que Verne perde o fio à meada, como os personagens estão muito longe da riqueza de um Nemo ou de um Phileas Fogg, e o respeito que o senhor francês costumava demonstrar pelas culturas indígenas, mesmo que temperado pelos preconceitos típicos da época, custa a ver-se neste livro.
A Invasão do Mar é dos livros mais desconhecidos de Jules Verne. Merecidamente.
Quanto à tradução, de Joaquim dos Anjos, é regular. Notam-se aqui e ali algumas falhas, mas nada de gritante, e o tradutor respeita bem a simplicidade da prosa do autor.
Em resumo: três estrelas.
Crítica escrita por Jorge Candeias, um dos melhores críticos nacionais, e cedida gentilmente para o blog JVernePt. É o autor do magnífico site E-nigma, Revista Electrónica de ficção-científica e fantástico, um site que eu recomendo bastante.
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sábado, 9 de junho de 2007

Uma visita a Amiens...

Tinha eu por volta dos 12 anos quando vi um livro numa livraria que me chamou a atenção devido ao seu título enigmático... Era “Viagem ao Centro da Terra” de um escritor de nome Júlio Verne.

Li-o com grande entusiasmo sem quase conseguir parar, sempre acompanhando com as magníficas ilustrações.
Após esta obra comprei “5 Semanas em Balão”, depois “20000 Léguas Submarinas”, “Volta ao Mundo em 80 dias”, etc...
Numa palavra posso dizer que fiquei apaixonado pelas obras deste autor.
Até hoje, ainda não parei de ler as suas obras, tendo cada vez mais admiração pelo mestre Júlio Verne.
As suas obras tiveram um grande significado na minha vida. Foram a partir delas que fui ao pólo norte e pólo sul, atravessei África, desci o rio Amazonas numa jangada, dei a volta ao mundo e até fui à Lua, sem sair do meu quarto. Além disso, as suas obras têm em mim uma grande “força” psicológica, isto é, quando me sinto “em baixo”, infeliz, deprimido, o meu remédio é a leitura de uma obra de Júlio Verne. As suas obras têm o poder de me fazer sentir feliz, de me sentir vivo!
Por isso, decidi que era a altura de lhe agradecer tudo o que fez por mim e nada melhor que o visitar na sua última morada em Amiens (França).
 
 
Levantando voo da minha cidade Natal, Porto, e chegando duas horas depois a Beauvais junto com o meu pai, apanhamos logo um táxi com destino à cidade de Júlio Verne.
À entrada da cidade, junto à linha de caminho de ferro, encontrei a primeira referência ao autor, “Le Cirque Municipal Jules Verne”. Este anfiteatro tem o seu nome desde 2003, devido ao seu discurso como conselheiro municipal, aquando da sua inauguração em 1889.
 
 
Seguindo pela “Boulevard Jules Verne”, uma rua nas traseiras do “Cirque”, foi me possível passar pela frente da casa onde Verne viveu em Amiens (aqui está o porquê do nome da rua) entre 1873-1882 e depois entre 1900-1905, onde veio a falecer. Esta casa, nº44 da antiga rua Longueville, está situada a sul da cidade, no novo bairro de Henriville que, em 1830, surgiu com a demolição das antigas fortificações. Modernas e amplas, estas casas estão voltadas para um grande jardim em torno do qual se justapõem casas todas elas do mesmo estilo. Em frente é possível ver na fossa das antigas fortificações, a nova linha de caminho de ferro Paris-Boulogne-Calais. Na fachada da casa, podemos ver um memorial onde nos é dito que Júlio Verne viveu nesta casa durante 14 anos vindo a falecer no dia 24 de Março de 1905.



Seguindo 100 m para este, encontrei, emocionado, um dos objectivos da minha visita: o “Museé Jules Verne”. Esta casa, conhecida pela casa da torre, foi habitada pela família Verne de 1882 até 1900. Porém devido à hora tardia, não me foi possível a sua visita nesse dia, deixando a sua descrição mais para a frente.
Seguindo 50 metros e atravessando uma rotunda, a qual Verne descreve numa das suas obras, podemos encontrar um pequeno parque verde com o nome “Square Jules Verne”. Lá podemos ver um magnífico monumento, constituído por um busto de Júlio Verne e três crianças lendo as “Voyages Extraordinaires”. Esta obra de arte, realizada em 1908 por Albert Roze, tem a finalidade de homenagear o autor devido à sua capacidade de levar as crianças a um primeiro contacto com a leitura. Porém, devido ao pouco dinheiro disponibilizado e à instabilidade do terreno provocado pela linha de caminho de ferro (neste local subterrânea), este monumento ficou mais pequeno do que o previsto. No entanto, o que me entristeceu foi a pouca limpeza do monumento.
 


Entrando no centro da cidade, por uma rua pedonal, deparamo-nos com o Teatro Municipal do qual Júlio Verne era bastante frequentador. Do original apenas sobreviveu a fachada visto que no seu interior nada mais encontramos do que uma agência bancária.
 
Seguindo pela mesma rua pedonal,“Rue Trois Cailloux”, encontramos o “Hotel de Ville”. Este fantástico e grandioso edifício alberga, traduzindo à letra, a casa da cidade. Verne foi conselheiro municipal durante 16 anos (1888 a 1904). A Câmara Municipal era governada na altura pelo republicano Frederic Petit.



Desde a saída do anfiteatro até aqui, é-nos sempre possível acompanhar a nível visual, a magnífica Catedral Notre-Dame de Amiens. Porém, só após atravessar meia cidade, é que pude finalmente deliciar, sem qualquer obstáculo, a magnífica obra do século XIII (palavras de Verne). Esta cidade, mais concretamente esta catedral (uma das maiores de França no seu estilo), serviu de fonte de inspiração para a descrição da cidade de Ragz e da sua catedral na obra “O Segredo de Wilhelm Storitz”.
 


Voltando ao hotel, ainda tive oportunidade de visitar exteriormente o “Le Musée de Picardie”, onde se encontram algumas obras de arte transferidas da Câmara Municipal a pedido de Júlio Verne afim de toda a população as poder ver, a Biblioteca Municipal onde Verne passava 5 horas por dia, o “Caisse d'Epargne” (Banco da Cidade) onde Verne foi administrador e a praça René Goblet aonde se localizavam os salões que Verne frequentava juntamente com os seus amigos.



Voltando ao hotel, tive a feliz oportunidade de passar por mais uma referência a este escritor, a Universidade Picardie Jules Verne. Já no interior do hotel verifiquei que os seus dois salões se chamavam, respectivamente, Nautilus e Nemo.
 

 O dia seguinte iria ser com certeza o mais especial da minha vida visto que iria visitar o meu “amigo” Júlio Verne à sua ultima casa.

Cimetiére de la Madeleine


Perante o meu pouco sono, devido com certeza à importância da visita ao túmulo, fiz-me à estrada, junto com o meu pai, bem cedo com a esperança de aproveitar bem a manhã no “Cimetière de la Madeleine”. Dois dias antes, ainda em casa, procedi aos cálculos da distância entre o hotel e o cemitério através do programa “Google Earth”. Obtive 2,34km e pensei que poderia fazê-los facilmente a pé. Não poderia estar mais enganado. Sem exagerar, andamos à volta de 10km. Durante o trajecto lembrei-me que procedi, no programa, à medição da distância em linha recta e não seguindo a estrada como deveria ser. Aprendi a lição pois no regresso viemos de bus.

O cemitério, o maior que já entrei, tem 500m de comprimento por 350m de largura. Passando os primeiros 250m cheguei finalmente à porta principal. Com o coração a bater cada vez mais depressa, entrei no cemitério. Optando por um caminho lateral devido à passagem de um carro (pela primeira vez entrei num cemitério onde é possível os visitantes se deslocarem de carro no seu interior) fui lentamente apreciando, com um pouco de nervosismo, as magníficas sepulturas dos séc. XVIII e XIX (a maioria abandonadas dando um ar muito assustador). Chegando a uma intercepção com outra via, segui em frente até que ao longe reparei num homem de mármore de braço esticado a tentar sair da sepultura. Se o meu coração já batia depressa, imagine-se agora! Com um passo agora largo, aproximei-me do túmulo do mestre Júlio Verne. Tinha conseguido! Estava perante o meu mestre.
Sem querer pisar o seu túmulo, estiquei-me e apertando a sua mão com imensa força, disse-lhe: Obrigado!

Tirei imensas fotografias, filmei e até trouxe um pouco de "terra sagrada” junto à sepultura (devido a este bocado de terra, fui revistado no aeroporto pois pensavam que era algum traficante que transportava alguma substância perigosa, mas lá consegui passar sem problema com a minha "terra sagrada" – um episódio curioso). Durante a minha tentativa de recolha de alguma terra (muito difícil pois o terreno é muito duro) reparei no nome quase apagado de sua mulher, Honorine, que também lá se encontra sepultada. Penso que o deveriam realçar pois foi uma pessoa bastante importante na vida do escritor.
Foi realmente um momento emocionante e espero um dia voltar a repeti-lo.

Mais o meu dia ainda não tinha acabado...

Maison 'Jules Verne'


À tarde foi a vez de visitar a casa da Torre no nº2 da rua Charles Dubois.


Não será preciso dizer que cumpri o horário de abertura. Estando algum tempo no jardim exterior deparei-me com a beleza da sua casa e da torre, como também da magnífica pintura na parede traseira do museu. Esta casa tinha sofrido obras no valor de 3 milhões de euros no ano do centenário (2005) e cá de fora podia dizer que tinha valido a pena. Estava como nova.
 


A recepção, onde se encontram revistas/livros de consulta e os “souvenirs”, foi no tempo de Verne a sua cozinha. Foi aí que me apresentei como sendo um português apaixonado por Verne (mostrando a minha t-shirt feita propositadamente para esta viagem), sendo esta a principal razão da minha vinda a esta cidade.
Foi-me explicado qual o trajecto a seguir dentro da casa, passando para as minhas mãos um caderno com uma breve explicação de cada divisão. Infelizmente, não foi permitido tirar fotografias nem filmar o seu interior (depois percebi que haveria um livro à venda com fotos interiores) mas poderão acompanhar esta minha descrição com as fotos disponibilizadas no site da “Maison de Jules Verne”.


Na 1ªfoto panorâmica têm uma vista da casa e da sua torre já no interior da propriedade. Podemos ver o portão da entrada do lado direito, a porta da recepção (antes cozinha) do lado esquerdo e em frente uma vista para o jardim interior.


Agora a partir da 2ª foto, podemos ver a espectacular pintura das máquinas maravilhosas de Verne desenhada pelo francês François Schuiten e ter uma maior noção da entrada da recepção.
Já dentro de casa, começamos a nossa visita pelo hall de entrada, vendo com mais pormenor o seu jardim interior.
 

De costas para o jardim exterior podemos ver um busto de Júlio Verne e à sua esquerda a entrada para sala de jantar. Infelizmente não nos é possível visitá-la virtualmente, porém poderão lá encontrar uma mesa de jantar como também um serviço de jantar com as iniciais JV lá gravadas. Passando para a divisão seguinte, entramos na sala da música. Lá encontramos, para além do piano de Júlio Verne, quadros pintados do casal Verne como também da sua irmã Marie. Era aqui que o casal Verne dava as suas festas.

Passamos agora para outra divisão não visitada pelas fotos panorâmicas. Trata-se uma pequena sala de fumo onde Verne e os seus amigos fumavam e conversavam depois de uma belo jantar. É possível ouvir-se através de uma gravação, barulhos de homens a conversar imitando um dia movimentado em sua casa. Podemos também reparar num quadro com a foto do escritor como também as suas certidões de nascimento e casamento.
 

Saindo desta divisão, entramos, na por mim chamada, divisão do “Great Eastern”. Este foi o nome do navio, o maior da altura, onde Verne atravessou o atlântico rumo a New York e às Niagara Falls. Esta viagem feita com o seu irmão Paul, serviu de inspiração à obra “A Cidade Flutuante”. Neste quarto é-nos possível ver uma miniatura deste navio, 1ªs edições do livro acima citado como também fotos da construção do navio, presenciada por Verne, em Inglaterra.

Subindo para o 1º andar, encontramos as divisões aonde em tempos se localizavam os quartos da família Verne. Estas divisões foram transformadas na biblioteca Hetzel (editor de Jules Verne),no seu escritório de Paris e na sua sala de estar. Nesta ultima foto, podemos encontrar o sofá de Hetzel onde se sentaram alguns dos mais conhecidos escritores de toda a França, George Sand, Jules Verne, Victor Hugo, Alexandre Dumas, entre outros, e apreciar os posters dos lançamentos das obras de Verne editadas por Hetzel.


No 2ª andar, podemos visitar o interior do seu navio “Saint Michel III ancorado em Le Crotoy", onde viveu entre 1865 e 1869, sempre acompanhado com o ruído de fundo do porto de mar. No seu último ano em Crotoy, Verne começou a escreveu a sua novela “20000 Léguas Submarinas”.

Neste piso, temos finalmente a oportunidade de visitar o seu local de estudo, isto é, a sua biblioteca. Nesta divisão podemos observar os grandes mapas-mundo na sua secretária que eram utilizados nas suas pesquisas. No outro lado da sala podemos pisar um grandioso mapa onde Verne traçou o trajecto de “Robur, o Conquistador”.


Por último, devido ao seu pequeno espaço apenas podemos ver da porta o seu local de escrita. Jules escrevia desde as 5 horas até às 11 da manhã e procedia depois a uma sesta na pequena cama de ferro junto à secretária. Nesta divisão podemos ver um dos globos pertencentes a Verne como também o seu material de escrita. Mais uma vez temas a oportunidade de ouvir um barulho de fundo, sendo caso o som da caneta a escrever no papel como também o tossir do "suposto" escritor.


Subindo agora para o quarto e último piso, temos a oportunidade de vermos o sótão de sua casa. Aqui estão colocados alguns presentes recebidos, posters de filmes e teatro, fotografias antigas, jogos, marionetas, quadros, recortes de jornais (aquando da sua morte), as suas bengalas, e pendurados no tecto, os modelos das suas máquinas maravilhosas como o “Epouvante” e o “Albatroz”.
 

Depois de visitarmos o sótão, temos agora a oportunidade de descermos os quatro pisos através da torre da casa e apreciarmos, a meio da descida, um modelo do “Columbiad” (Da Terra à Lua).
A nossa visita à cidade de Júlio Verne tinha acabado. Só me restava agora guardar estas belíssimas recordações.

No dia seguinte voltaria a Beauvais afim de apanhar o meu transporte para casa. Mas que fazer na manhã do meu último dia? Sim, voltaria novamente à sua casa. Logicamente, fui reconhecido pelos seus funcionários, talvez devido ao meu entusiasmo na visita, e foi-me oferecido, desta vez, a entrada na sua casa.
Obviamente, li e reparei em objectos (fotos, quadros, medalhas, diplomas, etc) que tinham passados despercebidos na minha primeira visita, mas que, agora sem a vontade de passar rapidamente para a próxima divisão, tive o prazer de os apreciar devidamente.

Gostaria, por último, de fazer um comentário pessoal acerca desta casa-museu como da cidade de Amiens.
Começando pela casa, gostaria de dizer que esteve para além das minhas expectativas. Quando o funcionário me explicou qual o caminho a seguir, pensei que me iria acompanhar afim de não tocar, pegar seja no que for. Mas não! Tive total liberdade (sempre acompanhado pelas câmaras de segurança) de tocar nos vários objectos de Verne como as suas poltronas, piano, móveis, etc...
Porém, a casa-museu chama-se “Maison de Jules Verne” e não “Maison de Jules Verne et Bureau de Pierre-Jules Hetzel”. Não estou a dizer que não gostei de ver o seu escritório, a sala de estar e a sua biblioteca mas talvez fosse mais interessante apreciar os quartos do casal Verne e do seu filho Michel.

Falando agora da cidade, surpreendeu-me o facto de grande percentagem das pessoas que tive contacto, mostrar desconhecimento pelo facto de Júlio Verne ter vivido lá durante 34 anos e estar sepultado no cemitério da cidade. Além disso, como já referi, é pouco o cuidado nos monumentos relacionados com o escritor. É pena.
Verne em 1893 disse: "O grande desgosto da minha vida foi jamais ter sido reconhecido na literatura francesa." 114 anos depois, digo que o meu desgosto é não ver Júlio Verne a ser reconhecido em Amiens.

As fotos interiores da casa retiradas do site Amiens.fr.