quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Crítica '20000 Léguas Submarinas (1870)'

Ganhei há bem pouco tempo o gosto de ler Júlio Verne. Tenho aproveitado as colecções que foram lançadas muito recentemente, uma pela RBA Editores e outra no Correio da Manhâ. Estou a completar a primeira. Mas já tinha adquirido as Vinte Mil Léguas Submarinas antes. E finalmente encontrei um género literário que me satisfaz completamente.

Em relação a este título em particular, posso dizer que me fez sonhar como sempre desejei. Conta-nos a história de um professor francês, o seu companheiro (Conseil) e Ned Land, um marinheiro canadiano e de como todos acabam "prisioneiros" do Nautilus e do capitão Nemo, após terem seguido a bordo de um navio cuja missão era capturar um terrível monstro que assolava os mares e afundava navios - o Nautilus.

É surpreendente a vivacidade com que o autor nos faz a descrição das aventuras e desventuras daqueles 3 personagens e a relação algo tempestuosa com o capitão, um homem duro, decidido a isolar-se irremediavelmente do mundo civilizado para viver a bordo do submarino por ele desenhado. Este é uma verdaderia fortaleza contra todos os perigos. Toda a tripulação se alimenta dos recursos fornecidos pelo mar, tudo o que encontramos na terra tem o seu homólogo na água. O que é uma visão fascinante embora um pouco utópica de como utilizar recursos que são praticamente inesgotáveis e não poluentes. Aliás, Júlio Verne aponta-nos aqui uma faceta sua que me parece muito recorrente: a de naturalista e em muitos aspectos de ecologista.

O que me aborreceu mais foi, de facto, a imensa descrição de peixes, moluscos, enfim, todos os animais marinhos classificados por ordens, subordens, classes... acho um pouco desnecessário e, para quem não tenha em mente todos aqueles animais, é demasiado exaustivo. Contudo, somos compensados com as maravilhosas viagens ao fundo do mar, os fatos de mergulhador bastante arcaicos, mas uma descrição bem realista da sensação de estar no fundo do mar. Percorrem-se todos os oceanos a bordo do Nautilus e só no Árctico é que correrá verdadeiro perigo, como que antecipando o final, que não vou revelar.

Às tantas, a meio do livro, depois de tanto ler sobre a inesgotável electricidade que alimentava o Nautilus, do material inquebrável que o compunha, das velocidades que aquele subamarino atingia, é que parei para pensar um pouco e dar-me conta de que este homem, Júlio Verne, era de facto um visionário. Escrevendo em meados do século XIX, mais propriamente 1873, quase que nem damos por isso, embora se possa rever precisamente naquele espírito analítico e necesariamente classificador um reflexo da maneira como a ciência era encarada na época.

Os personagens são caracterizados perfeitamente. Temos o subserviente Conseil, que segue o seu mestre para todo lado e só opina o que o mestre opina, vive porque ele vive, respira para ele, sem autonomia mas muito fiel. Temos Ned Land, o impetuoso pescador, cujo único pensamento desde o início é escapar - incapaz de estar preso durante tanto tempo. Temos ainda o Professor, de que não me recordo o nome, espírito perfeitamente sereno e observador, esperando pelo momento certo, escolhendo bem as palavras, aproveitando a prisão involuntária para aumentar os seus conhecimentos e estudos. E temos também a figura incontornável do capitão Nemo, homem de personalidade vincada, obstinado e decidido, um estudioso excêntrico, como a maior parte dos personagens de Verne.

Enfim, é um livro muito aconselhável a quem se queira iniciar na ficção científica de excelente qualidade, é um clássico de incontornável gosto, imprescindível, mas que pode maçar um pouco nas suas divagações acerca dos habitantes marinhos. De resto, até acabamos por aprender algo com isso, sem querermos. Portanto, só tem vantagens. Leiam.

Crítica escrita por Cátia Santos, autora do blog Há Fogo na Lua, e cedida gentilmente para o blog JVernePt.

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1 comentário:

Bruno Galassi disse...

So quero acrescentar que o nome do professor que vive e narra as aventuras e Pierre Aronmax.