segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Jules Verne - História da Edição Portuguesa (1873-2021) 11 - Algumas Confirmações e Novas Descobertas

Toda e qualquer história tem o seu modo peculiar de indicar que ainda não está totalmente esgotada. Vai revelando lentamente novos indícios que permitem clarificar certos pontos que careciam de confirmação e para os quais parecia não haver uma solução à vista. 

É o caso da história da edição portuguesa de Jules Verne. Esta nunca se deu por inteiro, de uma só vez. Quase como se tivesse vontade própria, foi-se desvelando de acordo com a sua íntima vontade, ao seu próprio ritmo, conduzindo, várias vezes, a caminhos absolutamente surpreendentes. Obrigou a diversas revisões do texto, uma dose substancial de imaginação em termos de pesquisa e, também, alguma sorte em encontrar as fotografias que comprovassem o que já se sabia e o que não se sabia ainda. 

Foi a primeira vez que fiz um trabalho de investigação na área da história do livro em Portugal, pelo que desconheço se existe algum caso paralelo ao de Jules Verne na história da edição portuguesa no que diz respeito ao seguinte, e absolutamente fundamental, aspecto: para se poder conhecer na totalidade os (muitos) meandros da história da edição de Verne em Portugal, é indispensável recorrer à consulta de (muitas) imagens.

Eis então os novos dados que esta história propiciou já neste início de 2023:

1) Confirmações

A prova das edições Aillaud e Bertrand em 1926 e 1927

Anúncio da revista Ilustração de 16 de Outubro de 1926


Anúncio da revista Ilustração de 1 de Outubro de 1927

Nas páginas da revista Ilustração (propriedade da Bertrand), publicada quinzenalmente entre 1926 e 1939 e irregularmente entre 1961 e 1975, não consta qualquer outro anúncio de reedição de obras de Verne. 

2) Novas descobertas

Já se sabia que, de 1956 em diante, a Livraria Bertrand reeditou os oitenta e dois volumes das Viagens Extraordinárias de acordo com a ortografia estabelecida em 1945.

Anúncio da reedição de acordo com a nova ortografia 
na 12ª edição de A Volta ao Mundo em 80 Dias (1957)

Antes disso, a editora tinha publicado isoladamente alguns títulos saídos com a ortografia anterior. A grande questão que se colocava era saber a) quais as obras publicadas e b) em que data(s) teria ocorrido essa edição. 

A alínea a) permanece ainda, em parte, sem resposta. Contudo, a datação destas edições isoladas só pode ser feita de forma aproximada e recorrendo, uma vez mais, à história comercial da casa editorial e dos seus consórcios luso-brasileiros. Entre 1948 e 1951 (de acordo com as capas do Almanque Bertrand, publicação anual da editora que se mantém até aos dias de hoje), a Bertrand iniciou uma nova parceria brasileira, desta vez com a Editora Paulo de Azevedo Ltda. Esta era propriedade de Paulo de Azevedo, director da Livraria Francisco Alves entre 1919 e 1946, ano da sua morte.

Capa do Almanque Bertrand de 1948


Capa do Almanque Bertrand de 1951

No ano seguinte, 1947, a designação comercial da sua antiga casa editorial, Paulo de Azevedo e Cia. transformou-se na Editora Paulo de Azevedo Ltda*. Dado que as capas do Almanaque Bertrand de 1952 em diante deixaram de apresentar na capa o nome de Paulo de Azevedo, é possível concluir que a data das reedições Vernianas com o alinhamento editorial da foto abaixo ocorreu entre 1948 e, no máximo, 1951.

Alinhamento editorial das edições Bertrand 1948-1951

Dito isto, a não ser que surjam novos dados, o último grande enigma da história da edição Verniana que ainda persistia sem resposta ficou agora resolvido.  


* Aníbal Bragança, "Revisões e provas: notas para a história editorial de Os sertões de Euclydes da Cunha: as edições Francisco Alves", Revista de História das Ideias, Vol.20, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1999, p. 345.

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