quarta-feira, 25 de julho de 2012

Dia do Escritor


Como eu escrevo?

"Não recomendaria aos outros que procedessem da mesma maneira. Creio que cada qual trabalha a seu modo, sabendo instintivamente qual seria o melhor método. Pois bem: de início estabeleço as grandes linhas do romance. Jamais começo um livro sem saber o começo, meio e fim. Até agora tive a sorte de ter sempre em mente não apenas um, mas uma meia dúzia de projectos bem determinados. Terminando o trabalho preliminar, estabeleço um plano de capítulos, começando então a verdadeira escrita da primeira versão a lápis, deixando uma margem de meia página para as correcções. Depois releio tudo e reescrevo a tinta. Acho que o meu trabalho verdadeiro começa com a primeira colecção de prova, quando não apenas corrijo cada frase, como também reescrevo capítulos inteiros. Parece-me que não domino o tema senão quando vejo o trabalho impresso. Felizmente o meu editor concede-me todo o espaço para as correcções e frequentemente chego a ler oito ou nove provas. Invejo, mas não quero imitar, aqueles que não vêem motivos para modificar ou acrescentar uma só palavra desde o capítulo primeiro até à palavra fim."

Extraído de: COMPERE, Daniel; MARGOT, Jean-Michel.
Entretiens avec Jules Verne, Paris: Editions Slatikine, 1999

1 comentário:

Carlos Patrício disse...

O sistema de produção literária de Verne era meticuloso, detalhista, perfeccionista e muito, muito trabalhoso.

É realmente admirável, em vista da enorme quantidade de obras realizadas, o nível de qualidade por ele alcançado. E com uma modéstia ímpar, raramente observada entre escritores de sucesso.