quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Jules Verne e a Cidade 5 - Paris, Agosto de 1960 3 (Paris no Século XX, 1994)


A evolução da história urbana da Paris real no século vinte, de certa forma, veio confirmar várias das tendências antecipadas por Verne em 1863. E essas consumar-se-iam a partir do início da década de 1960. Até um pouco antes disso. Quando é que o “cenário Verniano” se manifestou visivelmente no espaço parisiense?

Louis Chevalier, na sua obra clássica publicada em 1977, L’Assassinat de Paris, afirma que foi na segunda metade da década de 1950 (Chevalier, 1997: 27-28). A partir desse momento, uma nova racionalidade económica e uma visão tecnocrática tomaram conta, em definitivo, da gestão urbanística da capital francesa, transformando radicalmente a paisagem parisiense nas duas décadas seguintes (Chevalier, 1997: 10-11).

A Quinta República (1958 até ao presente) tinha uma visão e planos muitos específicos para Paris. Segundo Charles Rearick, para os urbanistas, “o imperativo crítico era a reforma de Paris para que esta pudesse servir as necessidades de uma sociedade do século vinte e uma economia moderna que se desenrolava a toda a velocidade (Rearick, 2011: 85). Decorrente deste novo imperativo económico, Chevalier identifica, já na década de 1960, o início de um certo processo de unidimensionalização da vivência dos lugares culturais e históricos da cidade (Chevalier, 1997: 305).

Esse processo de unidimensionalização viria a crescer com o tempo e a deixar cada vez mais vestígios subtis do declínio do valor social das artes e humanidades no espaço da cidade. Em 1976, por exemplo, Jean-Paul Crespelle constatava que a substituição da fauna de artistas e escritores por uma horda de bancários, gestores e funcionários de grandes empresas nos cafés e restaurantes de Montparnasse estava a retirar-lhe toda a identidade que tinha tido nos seus gloriosos anos boémios da década de 1920 (Crespelle, 1976: 139).

As décadas seguintes, e principalmente as duas primeiras deste século, não fizeram mais do que acelerar esta tendência no espaço real de Paris. A consulta de vários artigos de jornal publicados nos últimos anos remetem-nos para o seguinte cenário: encerramento de cinemas e livrarias históricas (Thomas, 2021), prevalência da especulação imobiliária em zonas históricas como Montmartre (Gairaud, 2021) ou o Quartier Latin que substituem lojas históricas por espaços comerciais de empresas multinacionais (Gairaud, 2021; Meheut, 2021), ao ponto de a histórica diferença identitária entre a margem direita e a margem esquerda da cidade estar-se lenta e gradualmente a dissolver (Noel, 2009).

É Giles Schlesser, contudo, que resume numa frase certeira a transição histórica que a relação entre um imperativo económico hegemónico e o declínio do valor social das artes e humanidades provocou em Paris nas últimas décadas:

É verdade que já há muito que «não existe um depois em Saint-Germain-des-Prés», tendo o bairro substituído ao longo do tempo as suas divisas literárias por outras mais titubeantes De Sartre a Armani, de Vian a Cartier, de Gréco a Vuitton, que longo caminho percorrido… (Schlesser, 2014: 8).

Ao contrário das inúmeras antecipações científicas, talvez tenha sido esta a maior e a mais ousada que Jules Verne fez na sua longa carreira literária: a do declínio do valor social das artes e humanidades no(s) espaço(s) urbano(s) em que vivemos. E se, para a elaboração da maior parte das suas obras, Verne foi auxiliado por patentes ou ideias já existentes, em 1863, para imaginar o declínio das artes e humanidades, o escritor podia contar apenas com a sua imaginação porque este fenómeno estava fora de cogitação na segunda metade do século dezanove. E se foi na segunda metade do século vinte que ele se iniciou, é no século vinte e um que ele tem-se vindo a consumar de forma cada vez mais vertiginosa.


Bibliografia

Chevalier, L. (1997). L’Assassinat de Paris. Paris: Editions Ivrea.

Crespelle, J.P. (1976). La Vie Quotidienne à Montparnasse a la Grande Epoque 1905-1930. Paris: Hachette.

Gairaud, A.M. (2021). Paris : le collectif «Sauvons Montmartre» s’oppose à la bétonisation du quartier [Online], disponível em leparisien.fr/paris-75/paris-le-collectif-sauvons-montmartre-s-oppose-a-la-betonisation-du-quartier-20-03-2021-8429273.php [consultado em: 27 Outubro 2021].

Gairaud, A.M. (2021). Paris : Covid-19, loyers exorbitants… la longue agonie des commerces du boulevard Saint-Michel [Online], disponível em https://www.leparisien.fr/paris-75/paris-covid-19-loyers-exorbitants-la-longue-agonie-des-commerces-du-boulevard-saint-michel-28-09-2021-O55UBIT65RGB7JW6XQCHI6HJ2Y.php [consultado em: 27 Outubro 2021].

Meheut, C. (2021). In the Latin Quarter, Paris’ intellectual heartbeat grows fainter with the loss of bookstores. [Online], disponível em https://www.seattletimes.com/nation-world/in-the-latin-quarter-paris-intellectual-heartbeat-grows-fainter-with-the-loss-of-bookstores/ [consultado em: 27 Outubro 2021].

Noel, J. (2009). Left Bank vs. Right. A Tale of Two Cities. [Online], disponível em https://www.chicagotribune.com/news/ct-xpm-2009-04-12-0904090490-story.html [consultado em: 15 Outubro 2021].

Rearick, C. (2011). Paris Dreams, Paris Memories. The City and Its Mystique. Stanford: Stanford University Press.

Schlesser, G. (2014). Saint-Germain-des-Prés, Les Lieux de Legende. Paris: Parigramme.

Thomas, V. (2021). En 20 ans, Paris a perdu 405 librairies. [Online], disponível em https://www.livreshebdo.fr/article/en-20-ans-paris-perdu-405-librairies [Consultado em: 29 Outubro 2021]

Verne, J. (1994). Paris au XXe siècle. Paris: Hachette.

Wiser, W. (1983). The Crazy Years: Paris in the Twenties. New York: Atheneum.

Jules Verne e a Cidade 4 - Paris, Agosto de 1960 2 (Paris no Século XX, 1994)

 

A Paris de 1960 tem o obsidiante aroma de distopia. Nela não haveria espaço para a vida boémia descrita por Henri Murger em 1849 ou para flâneurs pintores da vida moderna da estripe de um Baudelaire interpelando a alma encantadora das ruas. Esta cidade não é para dandies. Muito menos para poetas. Se nela habitasse, Rimbaud, perdedor magnífico na Paris do seu tempo, certamente ter-se-ia exilado muito mais cedo na Abissínia.

Quanto ao pulsar da vivência humana, é uma cidade cerceada pelas muralhas invisíveis do mais puro rigor matemático. Sem possibilidade de fuga ou de dissidência. Sem laivos de imaginação ou de ironia. E, sobretudo, sem humor. Não se exprimindo em sentido literal, mas ilustrando perfeitamente o espírito do tempo e da atmosfera daquela Paris, uma das personagens da obra de Verne afirma que “o riso é punido com a morte na nossa época, que é séria” (Verne, 1994: 71).

Numa sociedade em que se tornou despiciendo o estudo da história, e sem memória pela primazia que dá à actualidade do tempo presente obnubilando o passado (Verne, 1994: 33), visa-se encaminhar a existência humana para o primado da utilidade como via de sentido único e o sentido da vida explica-se através de engrenagens e de transmissões mecânicas (Verne, 1994: 47). Não é, pois, de espantar que o lema de vida do parisiense comum seja “(…) trabalhe no sentido de se tornar um homem prático!” (Verne, 1994: 50).

À semelhança de qualquer clássica ficção distópica, cada individuo é, ele próprio, um elemento que faz parte de uma engrenagem sociopolítica amplamente maior do que ele (Verne, 1994: 72), que o transforma num amorfo e acrítico analfabeto funcional (Verne, 1994: 28), incapaz de exercer livre e plenamente a sua autonomia enquanto ser social.

Esta cidade não ama a liberdade e dispensa de bom grado livres-pensadores. Libertinos como o Visconde de Valmont (um dos personagens principais da clássica obra de Laclos, As Ligações Perigosas) não sobreviveriam nela. A Paris imaginária de 1960 é a antítese da Paris revolucionária de 1789 ou 1871. Qualquer convite ao inconformismo ou à diletante perturbação dos valores instituídos são prontamente aniquilados pela hegemonia da racionalidade tecnoeconómica e tecnocientífica vigente, fazendo da cidade não a capital do século dezanove, mas sim a capital da normalização dos instintos e pulsões do humano.

Atente-se na forma como a cidade administra a sua política cultural. E como a conforma ao incentivo da ascensão da insignificância e da mediocridade. Nesta Paris, a criação autoral de peças de teatro deixou de ser feita por autores independentes para ficar sob a alçada de uma instituição estatal designada como Grande Círculo Dramático que tem a seu cargo a última palavra sobre que peças devem ser ou não apresentadas ao público.

Esta passagem ilustra perfeitamente as directrizes culturais de um paradigma sociopolítico assente numa racionalidade tecnocientífica e tecnoeconómica levadas ao extremo:

Mas se o Grande Círculo não produzia grandes obras, pelo menos divertia o público mais dócil com diversas obras inofensivas; deixou-se assim de representar os autores antigos e apenas por vezes, como excepção, é que Molière era representado no Palais Royal, por entre canções e pantominas dos senhores comediantes; mas Hugo, Dumas, Ronsard (…) estavam eliminados em massa (Verne, 1994: 140).

A Paris de 1960 não se compadece com a originalidade. É ingrata para com a espontaneidade da criação artística. A figura do autor assemelha-se inteiramente à do cidadão parisiense comum: docilmente amestrado pelo espartilho do conformismo. Na voz de um dos funcionários (que, por decisão política, substituíram os autores na criação de peças) do Grande Círculo: “(…) não temos que criar nada; aqui dentro, sabe, a personalidade deve desaparecer, tem de se enquadrar num vasto conjunto de obras medianas” (Verne, 1994: 141).

Deparamo-nos com a mesma paisagem árida em todas as actividades que não possuam um cariz tecnológico ou industrial e não apontem ao primado da prática e da utilidade. A Paris de Verne, tecnocientífica e tecnoeconómica, coloniza de tal forma todas as esferas de pensamento e de acção na esfera pública que, tendo a política se tornado numa mera forma de legitimar as decisões tomadas pela aliança economia/indústria, a existência de jornais é algo de verdadeiramente supérfluo e antiquado. Como corolário disso, a imprensa e o jornalismo são algo do passado e a censura estatal deixou de ser necessária (Verne, 1994: 136).

Assim como a poesia que, incapaz de procurar a sua inspiração temática no divino, no humano ou na natureza, celebra agora apenas, como é socialmente aconselhável e comercialmente a única via de se ser bem-sucedido na arte das musas, os grandes feitos tecnológicos e industriais (Verne, 1994: 52).

A razia produzida pela higienização paradigmática da racionalidade tecnocientífica e tecnoeconómica é tal que, naquele sombrio início de década de 1960 nos círculos de poder a ela afectos, relativamente à reorganização dos currículos universitários, “Corre o boato de que as cadeiras de letras, em virtude de uma decisão tomada na assembleia geral de accionistas, serão suprimidas no ano lectivo de 1962” (Verne, 1994: 108).

E porque não conduzir as humanidades à sua extinção se, à semelhança do que acontece no teatro em que os grandes autores foram condenados ao exílio pela espuma normalizadora dos dias e pela banalidade do tempo de uma época que cortou o cordão umbilical com o passado, a Compilação dos Problemas Eléctricos ou o Tratado Prático de Lubrificação das Rodas Motrizes e outras obras do género (Verne, 1994: 52) expulsaram definitivamente toda e qualquer obra de literatura, ensaio ou poesia das estantes das livrarias e bibliotecas públicas e privadas?

Em Paris, no ano da graça de 1960, dá-se por completo a aniquilação da cultura humanística e do livro enquanto objecto de cultura, ao ponto de qualquer autor de literatura, poesia, teatro ou ensaio do século anterior ser absolutamente desconhecido, figura de um passado arcaico e pré-industrial que não merece celebração ou evocação, incapaz de ser encontrado numa livraria.

A prodigiosa imaginação de Verne, como veremos no post seguinte, não andou, de todo, muito longe da realidade.

Jules Verne e a Cidade 3 - Paris, Agosto de 1960 1 (Paris no Século XX, 1994)

Escrito por Jules Verne em 1863, Paris no Século XX foi recusado por Hetzel, o seu editor por estar longe dos pergaminhos literários de Cinco Semanas em Balão e pelo tom demasiado sombrio que o escritor lhe imprimiu. Hetzel tinha alguma razão: Paris no Século XX não prima pela qualidade literária e, no seu tempo de vida, Verne nunca fez uma revisão da obra. Esta andou perdida mais de um século e foi redescoberta, em 1989, pelo bisneto do escritor, Jean-Jules Verne, num cofre ferrugento esquecido numa garagem de uma casa, em Toulon, que a família Verne decidiu vender. Foi publicada pela primeira vez em França, em 1994.  O texto que se segue é uma adaptação de algumas partes do artigo "From Paris in the 20th Century to Lisbon (and Paris) in 21st Century: The Monotonization of the Wolrd in the Idea and Space of the Contemporary City" que publiquei na revista Verniana, em Dezembro de 2021.


Paris, início da década de 1960. É a época para onde Verne nos transporta e onde decorre a acção do seu romance. Paris, metrópole financeira e cosmopolita, Meca do florescimento económico onde “(…) havia, pois, uma abundância de capitais, e mais ainda de capitalistas, em busca de operações financeiras ou de negócios industriais” (Verne, 1994: 27). Substitua-se aqui negócios industriais por negócios tecnológicos e digitais e reconhece-se facilmente a semelhança desta Paris com qualquer grande metrópole actual.

Paris já não é a grande capital das belas-artes e das les belles-lettres. É o expoente máximo, a cristalização consumada de uma modernidade tecnocientífica e tecnoeconómica numa fase de avançada maturidade histórica. A sua essência reduz-se à sagrada trindade do capitalismo, velocidade, eficiência e produtividade, “(…) onde a multiplicidade dos negócios não consentia qualquer descanso nem nenhum atraso” (Verne, 1994: 43). Em que a evolução de meios de comunicação como a telegrafia eléctrica e a telegrafia fotográfica (Verne, 1994: 61) permitem interacções e transacções comerciais à distância.

Traçada em longas e largas avenidas, de forma a permitir a incessante circulação de tráfego e onde, repare-se neste sublime detalhe da presciência do imaginário do autor, existem já vias reservadas a certos meios de transporte para evitar congestionamentos de trânsito (Verne, 1994: 43), o tecido desta cidade está pejado de hordas de uniformes transeuntes correndo apressadamente em todas as direcções. Paris é um caleidoscópio de ensurdecedores zurzires de veículos laborando dia e noite nas ruas em perpétuo movimento, de edifícios de escritórios das mais variadas actividades profissionais exercidas sob o primado do utilitarismo e do lucro, de sumptuosos estabelecimentos comerciais amplamente iluminados.

A Paris de 1960 sofre de carências habitacionais motivadas não só pela prevalência de interesses imobiliários privados (Verne, 1994: 75-76), cuja especulação obriga os mais humildes à migração para zonas mais periféricas da cidade (Verne, 1994: 92), bem como devido ao excesso de população. Algo que se pode confirmar por esta passagem do texto: “(…) arranjar casa mostrava-se então difícil numa capital demasiado pequena para os seus cinco milhões de habitantes” (Verne, 1994: 75).

E, claro, decorrente do progresso tecnológico e industrial associado ao sobrepovoamento urbano, a cidade vê-se igualmente perante outro fenómeno: a poluição (Verne, 1994: 76). Atente-se nas palavras que Verne coloca na boca de uma das personagens da sua obra:

(…) num espaço de dez léguas em redor de Paris, já nem há atmosfera! Tínhamos inveja do ambiente de Londres e, através das dez mil chaminés das fábricas, por causa do fabrico de produtos químicos, do guano artificial, dos fumos do carvão, dos gases deletérios e dos miasmas industriais, acabamos por criar uma atmosfera parecida com a do Reino Unido. (Verne, 1994: 129)

Jules Verne e a Cidade 2 - France-Ville (Os Quinhentos Milhões da Begume, 1879)


France-Ville é uma cidade francesa localizada no estado americano do Oregon e fundada na década de 1870 pelo Dr. François Sarrasin, médico higienista que exercia a sua actividade profissional em Paris, após ter herdado uma fortuna da Índia. Tem uma população de cem mil habitantes e, ao que se sabe, é a primeira cidade do mundo construída de raiz puramente com base em rigorosos dados científicos. As suas principais divisas são a saúde pública e o bem-estar colectivo.

Para o viajante que a deseje visitar, a forma mais prática de lá chegar é através das ligações ferroviárias que ligam a cidade a Portland ou a Salem, capital do Oregon. Uma das primeiras preocupações do Dr. Sarrasin foi a de construir amplas vias de comunicação, de forma a possibilitar o rápido desenvolvimento de France-Ville.

O plano da cidade é absolutamente geométrico e matemático. As ruas, cruzadas em ângulos rectos, têm distâncias e comprimentos iguais. O viajante ficará surpreendido com o ar saudável da cidade, fruto da abundância de árvores que nela existem. No pico do verão, as suas frondosas sombras são bastante procuradas quer pelos seus habitantes, quer pelo número cada vez maior de turistas que se ali deslocam.

A circulação urbana é maioritariamente assegurada por eléctricos e pelos caminhos-de-ferro metropolitanos. As suas carruagens são extremamente limpas e arejadas. Além da saúde pública, em France-Ville, a cultura não foi esquecida. O viajante que deseje circular a pé pelas suas ruas irá deparar-se, em cada encruzilhada, com um jardim público ornamentado por reproduções de grandes obras-primas da escultura.

Os habitantes são um fiel reflexo da cidade: todos primam pela higiene e pelo asseio. Essa foi, aliás, uma de várias directivas implementadas pelo Dr. Sarrasin quando decidiu fundar France-Ville. À chegada, o viajante recebe uma pequena brochura onde se encontram expostos, de forma simples e clara, os preceitos de uma vida regulada pela ciência e que devem ser seguidos por todos os cidadãos. Quem for descuidado em relação à sua aparência ou à sua higiene pessoal verá recusado o direito de entrar ou de permanecer na cidade.

Todas as actividades profissionais são permitidas, no entanto privilegiam-se as profissões úteis na indústria, no comércio ou nas artes liberais. O viajante que deseje estabelecer-se definitivamente em France-Ville deverá vir munido de cartas de recomendação que atestem as suas qualidades pessoais e aptidões profissionais. E se respeitar escrupulosamente as leis de saúde pública da cidade, rapidamente será acolhido pelo resto da população.

A saúde individual e colectiva é a razão de ser de France-Ville. Além de possuir uma polícia sanitária encarregada de fazer cumprir escrupulosamente, mas de forma gentil, as leis sanitárias estipuladas pelo Dr. Sarrasin, as penas para quem infringir qualquer uma das normas estabelecidas é extremamente severa, podendo ir de simples multas pecuniárias até, em último caso, à expulsão da cidade. Até hoje, não há registo de alguém ter sido expulso de France-Ville.

De forma a evitar a propagação de epidemias, a cidade possui também regras estritas em relação à construção de edifícios. Estas foram descritas por um cidadão francês, um tal de J. Gabriel Verne, que, segundo consta a informação disponível nos arquivos municipais, terá sido um dos primeiros visitantes de France-Ville. Eis, segundo Verne, algumas dessas regras:

“1 – Cada edifício estará isolado num lote de terreno plantado de árvores, relva e flores. Destinar-se-á a uma só família;

2 – Nenhuma casa terá mais de dois andares; o ar e a luz não devem ser monopolizados por uns em prejuízo de outros;

3 – Todas as casas terão a frente à distância de dez metros da rua, da qual estarão separadas por uma grade à altura de meio corpo”.

A acrescentar a isto, o viajante deverá estar ciente que, na decoração das casas, as alcatifas, os papéis de parede, bem como os almofadões de penas, estão absolutamente proibidos. Tudo em nome da saúde pública e do bem-estar de uma cidade que se quer arejada e livre de doenças e pandemias.

Se for amante de uma vida saudável absolutamente regulada pela ciência, de espaços limpos e arejados e de não ter que gastar avultadas quantias em seguros de saúde, o viajante ficará deliciado em conhecer, e talvez instalar-se em, France-Ville. Contudo, se for daqueles que prefere duches uma vez por mês, cabelos desgrenhados por colónias de piolhos, altos índices de poluição atmosférica, anarquia urbana caótica e arranha-céus a perder de vista, viajante, faça um favor a si mesmo:

- Fique-se por Chicago ou Nova Iorque e finja nunca ter ouvido falar de France-Ville…

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Jules Verne e a Cidade 1 - Amiens no Ano 2000 (Uma Cidade Ideal, 1875)

Uma Cidade Ideal foi uma palestra proferida por Jules Verne na Academia das Ciências, Belas Letras e Artes de Amiens, a 12 de Dezembro de 1875. Em 1877, o autor quis publicar este texto nas Viagens Extraordinárias. Avesso aos devaneios futuristicos Vernianos, o seu editor, Pierre-Jules Hetzel, recusou. Em Portugal, Uma Cidade Ideal seria publicada, em 1980, na colectânea de textos editada pelas Edições António Ramos (foto acima), não conhecendo qualquer edição posterior. O que se oferece em seguida é uma espécie de roteiro turístico para viajantes que decidam visitar a Amiens de Verne.  


Antes de pensar em partir, tenha em mente o seguinte: Amiens pode ser um lugar de contrastes. Se for apreciador do progresso tecnológico, o viajante que deseje conhecer esta cidade poderá ficar agradavelmente surpreendido com o seu dinamismo e modernidade. Porém, o viajante mais pacato e conservador não deixará de se sentir algo incomodado com as avenidas repletas de transeuntes, em que se circula com alguma dificuldade, dependendo das horas do dia.

Ao apaixonado pelo progresso impõe-se uma deslocação à rua Lemercier. Esta extensa artéria, ladeada por modernas e confortáveis habitações que se estendem nos dois sentidos até ao cimo da costa, apresenta-se convidativa para um longo e demorado passeio. Aqui o viajante vai deparar-se com os mais recentes progressos arquitectónicos, tanto nas habitações privadas como nas diversas igrejas que foram sendo construídas em anos recentes. A melhor forma de chegar à rua Lemercier é utilizar os transportes públicos. A carreira do eléctrico F, que vai de Nossa Senhora aos Reservatórios, tem paragem nesta rua.

Da ponte construída sobre a linha férrea, o viajante poderá ter uma vista panorâmica sobre os caminhos-de-ferro de Amiens. Desde que a Companhia da Picardia e Flandres foi vendida à Companhia do Norte, os comboios são construídos segundo o melhor estilo americano. As carruagens são aquecidas, especialmente nos meses de inverno, e primam pelo conforto e pelo asseio.

Amiens regista, também, notáveis melhoramentos na circulação pedonal. As calçadas das avenidas principais revestidas com pavimento de paralelepípedos de pórfiro substituíram os antigos passeios de lama argilosa, evitando assim que a população fique enlameada até aos tornozelos nos constantes dias de chuva que se costuma abater sobre a cidade no outono e no inverno. As alamedas secundárias estão, também elas, revestidas de betão.
 

O viajante não deixará de ficar surpreendido com a beleza dos jardins da cidade. As suas árvores e plantas são tratadas e regadas regularmente, denotando o singular cuidado que o município tem nesta importante dimensão do planeamento urbano. Para lá do seu aspecto estético, estes espaços verdes são, também, para pleno usufruto público: entre cada duas árvores, há bancos duplos com costas para que a população possa sentir-se (e sentar-se) tão próxima da natureza quanto um jardim permite e os candelabros de bronze erguidos até à altura dos castanheiros, além de iluminarem bem o espaço circundante, transmitem uma visível aura de segurança que se nota na tranquilidade que perpassa no rosto de quem ali flaneia. 

Quem pensar em deslocar-se a Amiens em busca de companhia irá ficar desiludido. Um dos aspectos mais curiosos da cidade é o facto de haver poucos ou nenhuns solteiros do sexo masculino e, muito menos ainda, do sexo feminino. O viajante irá encontrar apenas pares casados que se deslocam de braço dado, acompanhados por cardumes de crianças. Esta situação explica-se facilmente. Existe um imposto municipal que taxa severamente o celibato e, por isso, é raro encontrar rapazes maiores de dezoito anos e raparigas com mais de dezasseis que estejam ainda livres dos agrilhos que o santo matrimónio impõe.

Se o viajante poderá ficar algo surpreendido com os efeitos práticos do imposto sobre o celibato, mais perplexo ficará ao saber que a educação em Amiens versa apenas sobre as áreas da ciência, do comércio e da indústria, não havendo lugar para o ensino de outras disciplinas. O latim e o grego, por nítida falta de utilidade para os desafios da vida prática, há muito que deixaram de fazer parte dos currículos escolares.

Apesar disso, a cidade devota alguma atenção às artes e é inovadora, sobretudo, no domínio da música: aqui foi composta a famosa Reverie em Lá menor sobre o Quadrado da Hipotenusa. Esta peça de música futurista é constantemente tocada por bandas filarmónicas em toda a cidade e, certamente, agradará ao viajante mais melómano, aberto a novas experiências auditivas e culturais.

Outra manifestação artística apreciada por estas paragens são os concertos eléctricos, nomeadamente no amplo auditório da rua de Rambuissons. É ali que os mais vanguardistas costumam deliciar-se com os concertos à distância que o grande Pianowski costuma dar desde o Teatro Hertz, em Paris. 

Eis alguns dos aspectos mais significativos desta urbe peculiarmente moderna e amplamente virada para o bem-estar e conforto materiais, na senda do progresso tecnológico e industrial. Se o seu coração pender fortemente para o futuro, o viajante irá sentir-se em casa nesta cidade. Mas se, por outro lado, o seu intelecto for mais refinado que o seu pragmatismo e se preferir Bach e Beethoven ou Homero e Virgílio à imparável ideia de progresso, viajante, faça um favor a si mesmo: 

- De forma alguma, nunca na sua vida, pense em deslocar-se a Amiens...

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Justino Guedes (1852-1924), O Sucessor de David Corazzi na Edição Verniana em Portugal

Depois do afastamento precoce,  no início da década de 1890 devido a motivos de saúde, de David Corazzi do mundo editorial, coube a Justino Guedes a tarefa de dar continuidade à edição de Jules Verne em Portugal. Se a figura de Corazzi é relativamente bem conhecida, a de Guedes nem tanto. 

Justino Guedes nasceu em Minde, concelho de Alcanena, a 23 de Fevereiro de 1852 e em 1861, com nove anos, emigrou para Lisboa, vindo viver para casa de um tio. 


"Retrato do Artista enquanto Jovem" - Justino Guedes*

Depois de diversos empregos em papelarias e estabelecimentos de litografia, Guedes decide enveredar definitivamente pela actividade empresarial na indústria tipográfica. De espírito inovador e empreendedor, desloca-se ao estrangeiro, onde adquire equipamentos e maquinaria mais moderna e actualiza-se sobre os últimos desenvolvimentos tecnológicos que estavam a ocorrer na área da tipografia. 

Em 1873, é responsável pela impressão de O António Maria, o jornal satírico de Rafael Bordalo Pinheiro. A Tipografia Guedes, nome com que designou a sua empresa, vai especializar-se em impressão litográfica, nomeadamente na cromo-litografia (ainda pouco explorada em Portugal naqueles anos), sendo constantemente solicitada para  a execução de trabalhos gráficos de grande exigência. 

Embora com algumas perdas financeiras nos primeiros anos, fruto de arriscados investimentos, a Tipografia Guedes implanta o seu nome no mercado lisboeta. No início da década de 1880, Justino Guedes apoia o seu irmão, Alfredo Roque Gameiro (1864-1935), detentor de um notável talento para o desenho: em 1883, Gameiro começa a trabalhar como desenhador na Tipografia Guedes e, entre 1884 e 1887, irá frequentar um curso de litografia em Leipzig, após ter conseguido uma bolsa do Ministério das Obras Públicas. 

Depois do seu regresso, Roque Gameiro será o responsável máximo pelo departamento gráfico da Companhia Nacional Editora, a sociedade que, em 1888, irá juntar os destinos de Justino Guedes e David Corazzi  e editar as obras de Jules Verne na última década do século dezanove. 


Sede da Companhia Nacional Editora. Largo Conde Barão nº 50  


Sede da Companhia Nacional Editora com um dos famosos eléctricos "Americanos" parado à porta


1901, anúncio publicitário da Companhia Nacional Editora


Em 1903, a designação comercial muda de novo: troca-se o peso institucional da Companhia Nacional por uma marca mais light e com grafismos belle époque, A Editora, que continuará a publicar Jules Verne por cá. 


1911, anúncio publicitário de A Editora. De Verne não estavam (nem nunca estariam) editadas  as obras completas, mas já se sabe como, até naquele tempo, a publicidade podia ser enganadora

Ainda que, na década de 1900, o ritmo de edição fosse mais errático do que tinha sido com David Corazzi, Justino Guedes publicou uma boa parte das obras que Verne escreveu no início do século. A última seria O Farol do Cabo do Mundo, em 1912. 


  Justino Guedes em 1913

Na sua edição de 30 de Outubro de 1913, a propósito da Exposição Nacional de Artes Gráficas, a revista Occidente publicou uma reportagem sobre A Editora, ilustrada com algumas fotografias que permitem vislumbrar melhor por dentro o funcionamento da casa editorial.  


Revista Occidente, 30 de Outubro de 1913


Revista Occidente, 30 de Outubro de 1913


Revista Occidente, 30 de Outubro de 1913

1913 marcaria, também, outras mudanças. Justino Guedes cedeu os direitos de publicação de Jules Verne a outras casas editoriais (Aillaud e Bertrand e Livraria Francisco Alves). Continuaria, no entanto, a distinguir-se na actividade editorial e tipográfica, até ao seu falecimento, em 1924. 

* As fotografias deste post são provenientes do blogue Restos de Colecção [https://restosdecoleccao.blogspot.com/]

Em 1917, Jules Verne acompanhou o Corpo Expedicionário Português na Primeira Guerra Mundial

É sobejamente conhecida a falta de preparação e de condições materiais que o CEP - Corpo Expedicionário Português tinha quando, como autêntica carne para canhão, foi enviado para as trincheiras do norte de França para combater na guerra que iria acabar, de vez, com todas as guerras. 

O que talvez não se conheça tão bem é a história das Bibliotecas Populares e Móveis que, em 1917, acompanharam os soldados portugueses, como forma de os distrair dos horrores da carnificina. Dirigida por Luz de Almeida (1867-1939), o acervo destas bibliotecas era constituído por 2887 livros, registados entre 11 de Outubro e 21 de Dezembro de 1917. 

O primeiro livro registado nas Bibliotecas Populares e Móveis a que os combatentes portugueses tiveram acesso foi uma obra de Jules Verne. Esta: 



Jules Verne na Imprensa Portuguesa 5 - Jornal do Domingo, 29 de Janeiro de 1882

 

Jornal do Domingo, 29 de Janeiro de 1882


Jornal do Domingo, 29 de Janeiro de 1882


Além de sucesso comercial, as edições Vernianas de David Corazzi detinham prestígio. Serviam até como garantia de qualidade para os jornais angariarem assinantes. O texto por baixo da reprodução de A Jangada diz o seguinte: 

"AOS NOSSOS ASSINANTES

Encarregámos uma das principais oficinas de Lisboa de fazer as capas para o primeiro volume do Jornal do Domingo. Referimo-nos ao magnífico atelier de encadernação anexo à casa editora de David Corazzi. Isto equivale a dizer que as capas feitas em percalina vermelha, com enfeites a preto e letras douradas, reunirão a um tempo perfeição, gosto e modicidade no preço que é de 700 reis".

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Jules Verne no Cinema em Portugal 3 - Miguel Strogoff (1950)

Em Novembro de 1950, no escurinho do cinema (parafraseando a cantora brasileira Rita Lee), Lisboa continuava "empolgada" pela terceira semana consecutiva. O culpado de tamanho arroubo cinéfilo? Strogoff. Miguel Strogoff. 


Diário Popular, 11 de Novembro de 1950 


E como nos idos da década de 1930 a cotação de popularidade de Jules Verne estava nos píncaros da lua, o que poderia ser melhor que uma adaptação de uma obra Verniana ao cinema? Duas adaptações diferentes da mesma obra, em dois anos consecutivos e, ambas, com o mesmo actor no papel de Strogoff*.

Depois da adaptação francesa de 1936, seguiu-se, em 1937, uma outra adaptação, à moda de Hollywood (logo a começar pelo título): The Soldier and the Lady. Esta adaptação foi dirigida por George Philips Jr. (1897-1939) e teve como produtor associado Joseph Emolieff (1889-1962)**.

O filme estreou a 9 de Abril de 1937 nos Estados Unidos, mas em Portugal só chegaria aos cinemas no dia 28 de Outubro de 1950.


Cartaz da adaptação hollywoodesca que
 empolgou Lisboa nas primeiras semanas de Novembro de 1950.


* O actor austríaco Adolf Wholbruck, que estrelou a versão francesa de 1936, abandonou a sua Áustria natal nesse mesmo ano com medo do clima de intimidação nazi que já se começava a fazer sentir no país para radicar-se em Inglaterra. Em 1937, já em Hollywood, interpretou o papel de Strogoff com o nome de Anton Walbrook.

** Empresário cinematográfico russo que se naturalizou americano e que foi proprietário de estúdios cinematográficos na Rússia anterior à Revolução Bolchevique de 1917. Emolieff devia ter uma predileção especial por esta obra de Verne porque, em 1944, voltou a produzir uma nova versão de Michel Strogoff, desta vez no México.

Jules Verne no Cinema em Portugal 2 - Miguel Strogoff (1938)

Na década de 1930, em Portugal, o domingo era dia de folga para a maioria dos comuns mortais. Dia de folga e de evasão ao quotidiano. E evasão, muitas vezes, rimava com dia de ida ao cinema.

Embora o cartaz fosse recheado e variado, nem sempre havia o último êxito de durões como Bogart ou Cagney. Joan Crawford, Bette Davis ou Errol Flynn, nas suas acrobáticas piruetas em filmes de aventuras, também, nem sempre, estavam disponíveis. Mas, por vezes, havia Jules Verne. Ao domingo à tarde, no grande ecrã.

 
A Comarca da Sertã, 19 de Fevereiro de 1938

Em Lisboa, Miguel Strogoff estreou a 24 de Abril de 1936, mas o facto de a sua exibição continuar a circular pelo interior do país quase dois anos depois atesta bem a popularidade de Jules Verne no Portugal dos anos 1930. 

Esta versão de Miguel Strogoff é a adaptação da obra realizada pelo francês Jacques de Baroncelli (1881-1951) e pelo alemão Richard Eichberg (1888-1952) e que estreou em França a 10 de Março de 1936. 


Cartaz francês do filme


Cartaz espanhol do filme

 (em Espanha, Miguel Strogoff estreou apenas a 20 de Junho de 1939, devido à Guerra Civil que assolou o território entre 1936 e 1939)

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 4 - Olisipo, Janeiro de 1958

Revista Olisipo, Nº81, Janeiro de 1958


Revista Olisipo, Nº81, Janeiro de 1958


Revista Olisipo, Nº81, Janeiro de 1958. 
Artigo de Matos Sequeira.


Revista Olisipo, Nº81, Janeiro de 1958.
Artigo de Matos Sequeira.


Revista Olisipo, Nº81, Janeiro de 1958.
Artigo de Matos Sequeira.


Revista Olisipo, Nº81, Janeiro de 1958

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 3 - Revista Municipal da Câmara Municipal de Lisboa, 1º trimestre de 1948

Revista Municipal, nº36, 1ª trimestre de 1948


Revista Municipal, nº36, 1ª trimestre de 1948 - Antologia de Lisboa.


Revista Municipal, nº36, 1ª trimestre de 1948 - Antologia de Lisboa
 Artigo de Raymond Warnier.


Revista Municipal, nº36, 1ª trimestre de 1948 - Antologia de Lisboa
 Artigo de Raymond Warnier.


Revista Municipal, nº36, 1ª trimestre de 1948

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 2 - O Camões, 13 de Janeiro de 1881

 

O Camões - Semanário Popular Ilustrado,13 de Janeiro de 1881


O Camões - Semanário Popular Ilustrado, 13 de Janeiro de 1881

Jules Verne na Imprensa Portuguesa 1 - Occidente, 1 de Agosto de 1881

  

Anúncio da publicação do primeiro volume de A Casa a Vapor.

Occidente, nº 94, 1 de Agosto de 1881

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Jules Verne - História da Edição Portuguesa em Imagens 97: A Primeira Edição - Vinte Mil Léguas Submarinas (1873/1874)

1873, Typographia Manoel José Pereira, 1ª edição - O Homem das Águas (Tradução de Gaspar Borges D'Avellar)


1873, Typographia Manoel José Pereira, 1ª edição - O Homem das Águas


1873, Typographia Manoel José Pereira, 1ª edição - O Homem das Águas


1873, Typographia Manoel José Pereira, 1ª edição - O Homem das Águas


1874, Typographia Manoel José Pereira, 1ª edição - O Fundo do Mar (Tradução de Francisco Gomes Moniz)

Jules Verne - História da Edição Portuguesa (1873-2021) 10 - Os Tradutores entre 1873 e 1938 por Ordem Cronológica

1873 - Gaspar Borges d'Avellar Gaspar Borges de Avellar (20000 Léguas Submarinas – 1ª parte)

1874 – Francisco Gomes Moniz (20000 Léguas Submarinas – 2ª parte), Henrique de Macedo (Da Terra à Lua, À Roda da Lua e Aventuras do Capitão Hatteras), A.M. da Cunha e Sá (A Volta ao Mundo em 80 Dias)

1875 – Francisco Augusto Correia Barata (Cinco Semanas em Balão), Mariano Cirilo de Carvalho (Aventuras de Três Russos e Três Ingleses, Viagem ao Centro da Terra, A Gallera Chancelor), A.M. da Cunha e Sá (Os Filhos do Capitão Grant)

1876 – Gaspar Borges de Avelar (20000 Léguas Submarinas – 1ª parte), Francisco Gomes Moniz (20000 Léguas Submarinas – 2ª parte), Henrique de Macedo (A Ilha Misteriosa)

1877 – Pedro Vidoeira (Miguel Strogoff e As Índias Negras), Mariano Cirilo de Carvalho (O País das Peles), Pedro Guilherme dos Santos Diniz (Uma Cidade Flutuante)

1878 – Xavier da Cunha (Heitor Servadac), A.M da Cunha e Sá (O Doutor Ox), Pedro Guilherme dos Santos Diniz (Um Herói de Quinze Anos), Mariano Cirilo de Carvalho (A Galera Chancellor)

1879 – A.M. da Cunha e Sá (Os 500 Milhões da Begum), Manuel Pinheiro Chagas (A Descoberta da Terra e Os Navegadores do Século XVIII)

1880 – Manuel Maria de Mendonça Balsemão (Atribulações de um Chinês na China), A.M. da Cunha e Sá (A Casa a Vapor)

1881 – Pompeu Garrido (A Jangada)

1882 – Manuel Pinheiro Chagas (Os Exploradores do Século XIX)

1883 – Assis de Carvalho (A Escola dos Robinsons), Mendonça Balsemão (O Raio Verde), Urbano de Castro (Keraban, o Cabeçudo)

1884 – Almeida d’Eça (A Estrela do Sul)

1885 – João Maria Jalles (Os Piratas do Arquipélago), J. Fernandes Costa (Mathias Sandorf)

1886 – Agostinho Sottomayor (O Náufrago do Cynthia), Cristóvão Aires (O Bilhete da Lotaria nº 9762)

1887 – Cristóvão Aires (Robur, o Conquistador e O Caminho da França), Almeida d’Eça (Norte contra Sul)

1890 - J. Fernandes da Costa (Dois Anos de Férias), Lino de Assunção (Família sem Nome), Augusto Fuschini (Fora dos Eixos), Salomão Saragga (César Cascabel)

1891 – Silva Pinto (A Mulher do Capitão Branican)

1894 – Pinheiro Chagas (O Castelo dos Cárpatos)

1898 – Manuel de Macedo (Em Frente da Bandeira), Henrique Lopes de Mendonça (A Ilha de Hélice)

1899 – Higino Mendonça (Clovis Dardentor), Napoleão Toscano (A Esfinge dos Gelos)

1903 – Pedro Vidoeira (A Carteira do Repórter), Aníbal de Azevedo (O Soberbo Orenoco)

1911 – Fernando Correia (Um Drama na Livónia), Henrique Lopes de Mendonça (Os Náufragos do Jonathan)

1912 – Joaquim dos Anjos (A Invasão do Mar e O Farol do Cabo do Mundo)

1937 – José Coelho de Jesus Pacheco (A Aldeia Aérea)

1938 – J.B. Pinto da Silva e Diogo do Carmo Reis (A Agência Thompson e Ca.)