quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Justino Guedes (1852-1924), O Sucessor de David Corazzi na Edição Verniana em Portugal

Depois do afastamento precoce,  no início da década de 1890 devido a motivos de saúde, de David Corazzi do mundo editorial, coube a Justino Guedes a tarefa de dar continuidade à edição de Jules Verne em Portugal. Se a figura de Corazzi é relativamente bem conhecida, a de Guedes nem tanto. 

Justino Guedes nasceu em Minde, concelho de Alcanena, a 23 de Fevereiro de 1852 e em 1861, com nove anos, emigrou para Lisboa, vindo viver para casa de um tio. 


"Retrato do Artista enquanto Jovem" - Justino Guedes*

Depois de diversos empregos em papelarias e estabelecimentos de litografia, Guedes decide enveredar definitivamente pela actividade empresarial na indústria tipográfica. De espírito inovador e empreendedor, desloca-se ao estrangeiro, onde adquire equipamentos e maquinaria mais moderna e actualiza-se sobre os últimos desenvolvimentos tecnológicos que estavam a ocorrer na área da tipografia. 

Em 1873, é responsável pela impressão de O António Maria, o jornal satírico de Rafael Bordalo Pinheiro. A Tipografia Guedes, nome com que designou a sua empresa, vai especializar-se em impressão litográfica, nomeadamente na cromo-litografia (ainda pouco explorada em Portugal naqueles anos), sendo constantemente solicitada para  a execução de trabalhos gráficos de grande exigência. 

Embora com algumas perdas financeiras nos primeiros anos, fruto de arriscados investimentos, a Tipografia Guedes implanta o seu nome no mercado lisboeta. No início da década de 1880, Justino Guedes apoia o seu irmão, Alfredo Roque Gameiro (1864-1935), detentor de um notável talento para o desenho: em 1883, Gameiro começa a trabalhar como desenhador na Tipografia Guedes e, entre 1884 e 1887, irá frequentar um curso de litografia em Leipzig, após ter conseguido uma bolsa do Ministério das Obras Públicas. 

Depois do seu regresso, Roque Gameiro será o responsável máximo pelo departamento gráfico da Companhia Nacional Editora, a sociedade que, em 1888, irá juntar os destinos de Justino Guedes e David Corazzi  e editar as obras de Jules Verne na última década do século dezanove. 


Sede da Companhia Nacional Editora. Largo Conde Barão nº 50  


Sede da Companhia Nacional Editora com um dos famosos eléctricos "Americanos" parado à porta


1901, anúncio publicitário da Companhia Nacional Editora


Em 1903, a designação comercial muda de novo: troca-se o peso institucional da Companhia Nacional por uma marca mais light e com grafismos belle époque, A Editora, que continuará a publicar Jules Verne por cá. 


1911, anúncio publicitário de A Editora. De Verne não estavam (nem nunca estariam) editadas  as obras completas, mas já se sabe como, até naquele tempo, a publicidade podia ser enganadora

Ainda que, na década de 1900, o ritmo de edição fosse mais errático do que tinha sido com David Corazzi, Justino Guedes publicou uma boa parte das obras que Verne escreveu no início do século. A última seria O Farol do Cabo do Mundo, em 1912. 


  Justino Guedes em 1913

Na sua edição de 30 de Outubro de 1913, a propósito da Exposição Nacional de Artes Gráficas, a revista Occidente publicou uma reportagem sobre A Editora, ilustrada com algumas fotografias que permitem vislumbrar melhor por dentro o funcionamento da casa editorial.  


Revista Occidente, 30 de Outubro de 1913


Revista Occidente, 30 de Outubro de 1913


Revista Occidente, 30 de Outubro de 1913

1913 marcaria, também, outras mudanças. Justino Guedes cedeu os direitos de publicação de Jules Verne a outras casas editoriais (Aillaud e Bertrand e Livraria Francisco Alves). Continuaria, no entanto, a distinguir-se na actividade editorial e tipográfica, até ao seu falecimento, em 1924. 

* As fotografias deste post são provenientes do blogue Restos de Colecção [https://restosdecoleccao.blogspot.com/]

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