sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Jules Verne - História da Edição Portuguesa (1873-2021) 6

Para se compreender melhor os capítulos seguintes da viagem da obra de Verne em Portugal, é necessário mencionar estes dois nomes: Francisco Alves de Oliveira (1848-1917) e Júlio Monteiro Aillaud (1858-1927). Foi com base nas suas fusões empresariais transnacionais nos anos 1910 que Verne continuou a ser um autor prestigiado em Portugal ao longo de quase todo o século vinte.

Francisco Alves, embora nascido em Portugal, foi um livreiro luso-brasileiro radicado no Rio de Janeiro desde 1863, para onde foi trabalhar na Livraria Clássica, fundada pelo seu tio, Nicolau António Alves, em 1854 (Bragança 231). Almejando trabalhar por conta própria, só em 1897 que Alves logrou concretizar o seu projecto: nesse ano assume por completo a direcção da Livraria Clássica, e esta, a partir de 1903, passaria a ser conhecida simplesmente como Livraria Francisco Alves (Bragança 233).

Detentor da maior editora e livraria no Brasil do início do século vinte, em 1907, Francisco Alves resolve expandir os seus negócios para Portugal, adquirindo uma parte da editora (livraria e tipografia) Aillaud. Em 1910, Alves e Aillaud compraram a centenária Livraria Bertrand e já antes, em 1908, Alves tornara-se sócio maioritário de A Editora (Bragança 238), consumando a sua aquisição total em 1912. Com estas movimentações empresariais, Aillaud e Alves tornaram-se detentores dos direitos de publicação de Verne em Portugal e no Brasil.

Em Portugal, o escritor passaria a ser publicado pela chancela Aillaud e Bertrand entre 1926 e 1934.

 Alinhamento editorial das edições de 1926


Alinhamento editorial das edições de 1927.

Sucedem-se, entretanto, novas movimentações empresariais que vão interromper esta designação editorial: após o falecimento de Aillaud em 1927, a sua filha, Germaine, associa a empresa à Livraria Lellos, da cidade do Porto (Bragança 240). Em 1933, a Bertrand transforma-se numa sociedade anónima (Morgado), para, em 1942, ser comprada pelo livreiro francês, Marcel Didier (Ferreira 45 3).

A partir de 1934, e até 1974, Verne passaria a ser publicado quase exclusivamente pela Bertrand.

Alinhamento editorial das edições Bertrand 1934-1938

Porém, estas novas edições devem tudo ao trabalho editorial efectuado por David Corazzi no século dezanove. Tanto a Aillaud e Betrand, primeiro, como, a Bertrand, depois, mantiveram a designação de Viagens Maravilhosas (edição de luxo) e Grande Edição Popular das Viagens Maravilhosas aos Mundos Conhecidos e Desconhecidos e a sua respectiva numeração (oitenta e dois volumes editados entre 1874 e 1938).

Anúncio da Grande Edição Popular das obras de Verne (agora editado apenas pela Bertrand) na revista Ilustração de 16 de Dezembro de 1938.

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