sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Jules Verne - História da Edição Portuguesa (1873-2021) 5

A edição das obras de Verne foi acompanhando as diversas mudanças de nome comercial que a editora foi sofrendo: primeiro a Empreza Horas Românticas (1870-1883) dá lugar à Casa Editora David Corazzi (1884-1888). Depois, já em parecia com o tipógrafo Justino Guedes (1852-1924), esta passa chamar-se Companhia Nacional Editora (1890-1902).

A partir de 1903, a Companhia Nacional Editora deixa de ser Companhia Nacional e passa a figurar simplesmente com um nome que não pressagiava assim tantas horas românticas: A Editora. E, de facto, a partir de 1905, a empresa começou a passar por contratempos de diversa índole. Vendo diminuir em quantidade e qualidade o seu volume editorial (Domingos 91), A Editora encerraria definitivamente a sua actividade em 1912.

A vida de David Corazzi também conheceu diversos reveses, não chegando sequer a entrar no século vinte. Em 1890, vê-se forçado a cessar a sua actividade profissional devido ao declínio da sua saúde. Viria a falecer a 26 de Novembro de 1896, vitimado por complicações cardíacas.

Obituário de David Corazzi. Revista Occidente de 15 de Dezembro de 1896.

O seu precoce afastamento do ramo editorial constituiu um rude golpe para a edição Verniana em Portugal. Esta afirmação explica-se através da confrontação de alguns números. De 1876 a 1892, tirando as obras de Verne que tinham sido publicadas no período anterior à primeira data, David Corazzi, com apenas duas excepções (Dois anos de férias e Os primeiros exploradores), publicou as Voyages Extraordinaires no próprio ano em que saíram em França ou, quando muito, no ano seguinte. A última obra a conhecer a luz do dia em solo português com esta regularidade temporal foi A mulher do capitão Branican (1891), publicada em 1891 e 1892.

Com Justino Guedes ao leme, a situação alterou-se drasticamente e o ritmo da edição Verniana tornou-se bastante mais moroso. Eis o que apurámos na nossa pesquisa bibliográfica: O castelo dos Cárpatos (1892) teve a primeira edição portuguesa apenas em 1894, A carteira do repórter (1892) em 1900, A ilha de Helice (1895) em 1898/1899, Em frente da bandeira (1896) em 1898, Clovis Dardentor (1896) em 1899, A esfinge dos gelos (1897) em 1899, O soberbo Orenoco (1898) em 1903, Um drama na Livónia (1904) em 1911, A invasão do mar (1905) em 1912, O farol do cabo do mundo (1905) em 1912 e Os náufragos do Jonathan (1909) em 1911.

A própria forma de edição concebida por David Corazzi sofreu alterações nestes anos: entre 1899 e 1907, o topo das páginas da Grande Edição Popular tornou-se igual ao das edições de luxo, passando apenas a figurar a expressão Viagens Maravilhosas (Ferreira 44 3). As edições distinguiam-se apenas porque a edição de luxo mencionava conter ilustrações, como se pode ver nas fotos de ambas as edições de A carteira do repórter.

Folha de rosto das duas edições. A de luxo (1900) menciona conter ilustrações, ao passo que a Grande Edição Popular (1903) é omissa nessa questão.

Outras obras como A aldeia aérea (1901) e A Agência Thompson e Ca. (1908) seriam publicadas muito mais tarde, respectivamente em 1937 e em 1938, mas já por outras chancelas que marcaram um período importante na história da edição portuguesa e brasileira do século vinte.

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