sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Jules Verne - História da Edição Portuguesa (1873-2021) 1*

* Este post, bem como os posts que se vão seguir, constituem a adaptação de uma parte do artigo Once Upon a Time in Lisbon: The Extraordinary "Editorial Voyages" of Lusitânia Verne 1874-2021, que publiquei em Julho de 2022 na revista de Estudos Vernianos, Verniana [http://verniana.org/volumes/13/index.en.html] e pretende divulgar junto do público português em geral a história do escritor francês no nosso país.


Nas linhas que se vão seguir, o que se pretende é o seguinte: 1) identificar a data em que Jules Verne foi publicado em Portugal pela primeira vez e 2) contar a história da sua edição em Portugal desde a sua primeira publicação até aos dias de hoje.

A honra de estreia da publicação de Jules Verne em Portugal coube à cidade do Porto, onde, em 1873 e em edição da Typographia Manoel José Pereira, foi publicada a primeira parte de Vinte mil léguas submarinas (O homem das águas), com tradução de Gaspar Borges D’Avellar (1844-1889), jornalista da cidade invicta e o primeiro tradutor português de Verne.

A primeira obra de Jules Verne em Portugal

Em 1874, a mesma chancela publicaria a segunda parte da obra, O fundo do mar, com tradução de Francisco Gomes Moniz, de quem não se conhece qualquer dado biográfico.

A segunda parte da obra

Trata-se, estamos em crer, de uma edição única e, por isso mesmo, bastante rara. A mesma não se encontra registada em qualquer base de dados bibliográfica, nem sequer houve outras publicações de Verne nesta casa editorial que operou no Porto nas décadas de 1860, 1870 e 1880. Outro ponto que nos leva a acreditar no insucesso comercial desta edição é o facto de não conter ilustrações, um ponto capital na obra Verniana.

Em 1874, e ainda no Porto, circulavam já algumas traduções brasileiras do escritor francês, importadas por Ernesto Chardron (1840-1885), um livreiro francês radicado na cidade desde 1858 e dono da Livraria Internacional. A foto abaixo, extraída do Catálogo das Publicações Brazileiras recebidas pela Livraria Internacional de E. Chardron (1874) dá-nos conta das obras Vernianas a circular em Portugal naquela data.


Com o nome de Verne no plural, Ernesto Chardron oferecia ao seu público leitor as traduções brasileiras de A volta ao mundo em 80 dias, Viagem ao centro da Terra e os três volumes de Os filhos do Capitão Grant, todas elas publicadas no Brasil, em 1873.

As obras vendidas por Chardron eram as traduções da Livraria Garnier, pertencente ao livreiro francês Baptiste-Louis Garnier (1823-1893). Contudo, à semelhança da edição de Vinte mil léguas submarinas acima mencionada, estas edições não continham ilustrações (Bezerra 69). No mesmo ano de 1874, esta questão foi resolvida por um editor de Lisboa, de quem falaremos mais à frente. E será na capital portuguesa que terá lugar a mais longa e fecunda edição das obras de Jules Verne em Portugal, durante todo o século dezanove e uma grande parte do século vinte.

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