Em 2008, aquando da viagem do nosso livro à volta do Mundo, que homenageava o 180º aniversário do nascimento de J. Verne, foi com imensa pena que verificamos que o livro não pararia na cidade onde o escritor tinha vivido e falecido, devido à inexistência de vernianos dessa região interessados em participar nessa homenagem.
A cidade de Amiens (França) foi, sem dúvida, a grande "falha" nesta volta ao Mundo, porém, muitas outras belas localidades ficaram de fora por diversas razões. Desde então, temos tido o cuidado de levar o livro, com a ajuda dos nossos amigos vernianos espalhados pelo Mundo, a cidades que não entraram nessa viagem mas que mereciam ser visitadas e divulgadas a todos os que nos visitam, tais como Havana, Praga, Viena, Lisboa, Budapeste, Paris, Roma, e até o estado do Vaticano, entre outras, como poderão ver
aqui.
Diz o povo que há um português, ou um descendente de portugueses, em qualquer lugar do Mundo, portanto, foi com alguma naturalidade que recebemos uma mensagem de uma portuguesa,
Margarida Santerre, referindo que vivia na bela cidade de Amiens.
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Como era especial se o livro pudesse, finalmente, encontrar-se com o homenageado na sua última morada em Amiens, ainda mais neste ano em que se o 185º aniversário do seu nascimento." Perante este meu pensamento, entrei novamente em contacto com a nossa amiga verniana onde a informei acerca da homenagem e a questionei sobre a sua disponibilidade em receber o livro. A sua resposta: Claro que sim!
Amiens é uma cidade no norte da França, localizada a 120 km ao norte de Paris. É a capital do Departamento de Somme e da Região da Picardia e possui 135.501 habitantes.
Além de ser a localidade onde faleceu J. Verne, a cidade é também conhecida pelo facto de na Segunda Guerra Mundial, a prisão de Amiens ter sido bombardeada pela RAF(Força Aérea Britânica), na chamada "Operação Jericó", pois descobriu-se que os alemães pretendiam executar mais de 100 prisioneiros que faziam parte da Resistência Francesa. O objetivo da operação britânica era abrir fendas nos muros para que eles pudessem fugir, antes da invasão da Normandia. Dos 717 presos, 102 morreram, 94 ficaram feridos, 258 escaparam, entre eles 79 membros da resistência.
Dirigindo-se para o centro, deparamo-nos com o pitoresco
Saint Leu, o bairro mais famoso de Amiens onde se encontra um ambiente de esplanadas de restaurantes coloridos junto ao rio Somme.
Aqui junto, encontra-se a magnífica Catedral Notre-Dame de Amiens. Esta
magnífica obra do século XIII (palavras de Verne), uma das maiores de França no seu estilo,
serviu de fonte de inspiração, juntamente com a cidade, para a descrição da cidade de Ragz e da
sua catedral na obra “O Segredo de Wilhelm Storitz” do autor.
Continuando a viagem pelo centro, encontramos o Hotel de Ville.
Este fantástico e grandioso edifício alberga a Câmara Municipal (Br: Prefeitura). Verne foi conselheiro municipal durante 16 anos (de 1888 a
1904) que era governada na altura pelo republicano
Frederic Petit.
Outros locais de destaque em Amiens são o Le Musée de Picardie, onde se encontram algumas obras de arte
transferidas da Câmara Municipal para aqui a pedido de Júlio Verne para que toda a
população as pudesse ver, e a Biblioteca Municipal onde Verne passava 5
horas por dia e onde actualmente estão guardados alguns tesouros vernianos.
Desde a saída do anfiteatro até aqui, é-nos sempre possível acompanhar a nível visual o grandioso arranha-céus residencial, a Tour Perret, com os seus 103 metros de altura.
Para os vernianos que visitam a cidade, há locais obrigatórios por onde terão que passar devido à referência que têm com o escritor francês.
Por exemplo, ao entrar na cidade, junto à linha de caminho de ferro
Paris-Boulogne-Calais, encontra-se a
primeira referência,
Le Cirque Municipal Jules Verne. Este
teatro tem o seu nome desde 2003, devido ao seu discurso como
conselheiro municipal aquando da inauguração em 1889.
Bastante próximo do
Cirque, e localizado num pequeno parque verde com o nome
Square Jules Verne, pode-se encontrar um magnífico monumento de homenagem ao autor, constituído por um busto de Verne e três crianças lendo as
Voyages Extraordinaires.
Esta obra de arte, realizada em 1908 por Albert Roze, tem a finalidade
de homenagear o autor devido à sua capacidade de levar as crianças a um
primeiro contacto com a leitura. Porém, devido ao pouco dinheiro
disponibilizado na altura e à instabilidade do terreno provocado pela linha de
caminho de ferro (neste local subterrânea), este monumento ficou mais
pequeno do que o previsto.
Actualmente, e como poderá ver, o monumento encontra-se muito sujo, o que é bastante triste.
Seguindo pela
Boulevard Jules Verne, uma rua nas traseiras do
Cirque,...
...encontramos a casa onde Verne viveu em Amiens
(daí o porquê do nome da rua) entre 1873-1882 e depois de
1900 a 1905, onde veio a falecer. Localizada no nº44 da antiga rua
Longueville, esta encontra-se no novo bairro de Henriville
que, em 1830, surgiu com a demolição das antigas fortificações.
Na fachada, podemos ver um memorial
onde se informa que o escritor viveu nesta casa durante 14 anos, vindo a
falecer no dia 24 de Março de 1905.
Seguindo 100 m para este, na esquina com a rua Charles Dubois, o livro encontrou-se com a
Maison Jules Verne. Esta casa, conhecida pela casa da torre, foi habitada pela família Verne de 1882 até 1900, albergando actualmente o Museu Jules Verne.
O nosso livro conseguiu entrar no jardim exterior e deparou-se com a beleza da sua
casa e da torre, como também da magnífica pintura na parede traseira do
museu. Esta casa tinha sofrido
obras no valor de 3 milhões de euros no ano do centenário (2005) e pode-se dizer que valeu a pena.
Dirigindo-se para o tão esperado encontro com o mestre na sua última morada, o livro ainda passou pela
Université de Picardie Jules Verne.
Na periferia noroeste, a alguns quilómetros do centro da cidade, encontra-se o
Cimitiere de la Madeleine com os seus 18 hectares. Este cemitério é bastante visitado pelos turistas não só pelas magníficas sepulturas dos séc. XVIII e XIX mas principalmente pelo magnífico túmulo de J. Verne.
Lá dentro, chegando a uma intercepção, segue-se em frente até que ao
longe se repara na escultura de Albert Roze que representa Júlio Verne com um dos braços
estendido sendo o último
gesto de um homem ainda vigoroso que
repele a sua pedra como para afirmar que os seus personagens ainda
permanecem vivos.
Depois de uma volta ao mundo que homenageou o escritor nos mais diversos locais, o livro encontrava-se no mais especial. Tinha-se finalmente encontrado com o mestre.
Nada fazia mais sentido neste ano, em que se comemora o 185º aniversário do nascimento do autor, do que esta homenagem ao escritor das Viagens Extraordinárias.
Porém, e como já dito atrás, este desejo só foi realizado com a preciosa ajuda da verniana
Margarida Santerre, que juntamente com os seus filhos, percorreu esta bela cidade atrás do melhor ângulo para estas magníficas fotografias que connosco partilha. Um muito obrigado para a Margarida, para a sua família e para.... Júlio Verne, que sem ele este blog não existiria.